Santa Maria, RS: enquanto alguns cães ladram a caravana passa e Lula segue nos braços do povo

21 de março de 2018

O segundo dia da Caravana de Lula pelo RS foi demarcado por protestos de alguns representantes da extrema direita à tarde e pela resposta de uma multidão de apoiadores à noite

 

Integrantes dos movimentos sociais, estudantes e trabalhadores defenderam o prédio da reitoria das tentativas de agressão expressas pelos representantes da extrema-direita (foto de Alexandre Garcia/LPJ)

 

A licença poética utilizada no título do texto foi citada em muitos momentos durante o segundo dia da Caravana de Lula pelo Brasil em sua passagem pelo RS, quarta-feira, 20. Representa de forma concreta o que se pôde ver ao longo do deslocamento do grupo até os locais onde foram realizadas as atividades previstas para o dia: reunião com o reitor Paulo Burman e representantes de outras universidades federais na UFSM à tarde e ato público aberto na ocupação urbana Nova Santa Marta. A interpretação de lideranças vinculadas ao campo progressista é de que os acontecimentos que ameaçaram tumultuar as atividades da caravana são resultado de uma sociedade tensionada, onde dois campos distintos estão postos e protagonizam o enfrentamento pré-eleitoral: de um lado a esquerda, centro esquerda e movimentos de matriz popular e progressista defendendo o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva ou outros candidatos identificados com suas ideias; do outro a extrema direita, violenta e reacionária, representando um candidato de discurso simplista e sectário, incapaz de diálogo ou debate que se estabeleça a partir do campo das ideias e não da agressão ou da ofensa, deixando um vácuo no espaço que antes era ocupado pelos sociais-democratas e demais segmentos simpáticos ao posicionamento de centro ou centro-direita que não foram capazes de produzir uma liderança sequer com viabilidade eleitoral.

No caminho de Santana do Livramento para Santa Maria, na manhã de quarta-feira, 20, já se podia prever um pouco do que seria o cenário repleto de momentos antagônicos que aguardava Lula e sua delegação na cidade que se considera o coração do estado. Fazendeiros identificados com a extrema direita e simpáticos ao fascismo enfileiraram na RS 158 cerca de uma dezena de caminhonetes para tentar intimidar o grupo que conduz o ex-presidente em sua passagem pelo estado. Além de não conseguir alcançar seu objetivo, os milicianos ainda sofreram o constrangimento de ser dispersados pelas forças policiais e tiveram que se deslocar de volta à cidade atrás do grupo de apoio do presidente Lula. Segundo o comando Rodoviário da Brigada Militar informou a uma emissora de rádio da capital do estado, um carro foi abordado na via de acesso à cidade e apreendidas duas caixas de morteiros de posse de manifestantes anti-Lula que foram conduzidos à justiça. Também circularam comentários sugerindo que haveria também a detenção de um indivíduo com arma de fogo, mas a Brigada não confirmou essa informação até o início desta manhã.

 

Apoiadores da candidatura de Bolsonaram não economizaram nas ofensas, ameaças e agressões durante o protesto (foto: Alexandre Garcia/LPJ)

 

Na primeira atividade oficial do dia, nova tentativa de impedir a agenda prevista de ser mantida em estado de normalidade. Reuniram-se nas imediações da UFSM e depois deslocaram-se até a proximidade da reitoria cerca de 200 manifestantes, muitos deles vestindo roupas que lembram fardas militares, pilchas gaúchas e um grande número de camisetas alusivas a um pré-candidato que defende o ultraconservadorismo, a misoginia e o preconceito. Não contavam era com a atuação firme e decidida de estudantes, trabalhadores e trabalhadoras urbanos, pequenos agricultores e assentados da reforma agrária que defenderam o prédio da reitoria onde Lula reuniu-se com representações de universidades federais para debater os problemas reais que o ensino público tem enfrentado desde que o golpe parlamentar afastou Dilma Roussef da presidência e reorientou o rumo ao encontro dos anseios das classes mais altas em detrimento das necessidades do povo pobre e da classe trabalhadora. Até que a Polícia Militar chegasse à UFSM e novamente obrigasse o recuo dos manifestantes de extrema direita que já haviam provocado pelo menos uma dezena de momentos de tumulto e principiado agressões físicas e verbais, foram os próprios apoiadores de Lula que estavam no local para saudar o melhor presidente da história do Brasil que impediram com um cordão humano que se consumasse qualquer tipo de agressão à delegação.

A atividade pública da noite, marcada para a ocupação urbana Nova Santa Marta, a maior da América Latina, representou a resposta mais simbólica que o povo de Santa Maria poderia oferecer aos críticos de Lula: uma reunião onde seguramente mais de 7 mil pessoas marcaram presença para literalmente abraçar o palco onde Lula, a equipe que o acompanha e as lideranças locais se pronunciaram. Ali foi realizada uma verdadeira festa da democracia, reunindo pessoas da localidade e também muita gente que se deslocou de outros bairros, do centro da cidade e mesmo da região. Momentos de muita alegria e de extrema emoção foram captados pelas câmeras dos meios de comunicação alternativos e de correspondentes internacionais que se dedicam à cobertura da caravana. Os veículos tradicionais, de linha conservadora aparentemente não estavam presentes para registrar o ato.

 

Resposta do povo de Santa MAria veio a noite, na ocupação urbana de Nova Santa MArta, onde milhares de pessoas se reuniram para abraçar o sempre presidente Luis Inácio Lula da Silva. (foto: Alexandre Garcia/LPJ)

 

Marcos Antonio Corbari | Jornalista

Rede Soberania | Instituto Padre Josimo | MPA

Fotos: Alexandre Garcia, Ricardo Stuckert e Marcos Corbari