35 anos de ocupação, resistência e reforma agrária na Fazenda Annoni
Por: MST - Regional Norte/RS
Texto publicado pela Regional Norte/RS do MST
Em 2020 se comemoram 35 anos da ocupação, de luta e resistência, produção de alimentos e reforma agrária na Fazenda Annoni. A ocupação de 29 de outubro de 1985 entrou para a históriado Brasil.
Na noite de 29 de outubro de 1985, mais de mil e quinhentas famílias de 32 municípios do estado do Rio Grande do Sul se mobilizaram e lutaram, participando da maior e mais bem organizada ocupação de terras na história do Brasil desde a instauração da ditadura militar.
A ocupação e a luta de resistência no acampamento da Fazenda Annoni (entre 1985 e 1993) ficaram registrados na história como um dos “100 fatos que marcaram o Rio Grande” no século XX, se constituindo como “um marco na luta pela posse da terra: o maior acampamento de agricultores do país”.
A maioria das famílias assentadas em 1993 permanecem em suas terras produzindo. A área do assentamento de 8000 hectares ocupa menos de 20% da área do Município de Pontão, entretanto, gera mais de 60% dos empregos do Município, possuindo aproximadamente 700 pessoas trabalhando, gerando renda, dignidade e qualidade de vida. Nesse mesmo Município, 61 famílias são proprietárias de aproximadamente 30.000 hectares, gerando poucos empregos e alimentos.
Os assentados produzem aproximadamente 300.000 sacas de soja por ano e mais de 9 milhões de litros de leite, além de outras culturas como feijão, milho, frutas e verduras, atendendo mercados de toda região norte do estado em mais de 30 municípios, feira de produtores e a merenda escolar da rede pública de Passo Fundo, Carazinho, Pontão, Ronda Alta e Sertão. No assentamento existem inúmeras agroindústrias, aviários, laticínio com mais de 200 cooperados ativos e frigorífico (que abate 17.000 suínos e 2.100 bovinos por ano).
Dos mais de 400 filhos/as de assentados que tiveram acesso à educação pela conquista do assentamento, 233 concluíram o ensino médio e técnico, e mais de 100 concluíram graduação, e tantos outros pós-graduação. Hoje temos no assentamento, professores(as), médicos(as), veterinários(as), agrônomos, técnicos(as) em agroecologia/agropecuária, advogados, engenheiros civis, psicólogas, administradores(as), entre outros; que são filhos e filhas de assentados e assentadas. E acima de tudo, muito nos orgulha os agricultores e agricultoras que seguem nos seus lotes produzindo, diversificando a produção e realizando a sucessão familiar.
No Brasil de 2020, a pandemia atinge a economia, a política, a natureza, e impõe efeitos mais severos sobre a vida dos trabalhadores mais pobres. O governo federal de forma autoritária quer acabar com a Reforma Agrária, mas o MST ainda resiste, aqui e em todo país. Para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, a mobilização e organização do povo, que busca reunir forças para a construção de um novo projeto de país, aponta para um caminho único: a construção da Reforma Agrária Popular.
Assentar famílias que hoje estão acampadas, desempregadas e nas periferias das cidades é fundamental para superar a crise econômica e social, lutar contra a fome e dar dignidade a quem constrói o país. Os nossos 35 anos de história provam isso.
Viva os 35 anos de ocupação da Fazenda Annoni!
Viva a Reforma Agrária Popular!