Agricultura Camponesa (artigo de Frei Sergio Görgen)
Por: Frei Sérgio Antônio Görgen ofm
*Frei Sérgio Antônio Görgen ofm
Agricultura camponesa não é só um jeito de produzir no campo. É um modo de viver. É uma cultura própria de relação com a natureza. É uma forma diferenciada de vida comunitária. Na agricultura camponesa o trabalho é familiar, não assalariado, não capitalista.
A família camponesa vive e sobrevive com pouca terra. Esta agricultura sempre se fez, ao longo da história, em pequenas áreas de terra. Nisto se distingue da agricultura latifundiária, feita em grandes áreas e com trabalho alheio.
A agricultura camponesa prima pela diversificação na produção. Não é monocultora. Combina produção animal com produção vegetal.
A produção para o autoconsumo, para a subsistência familiar, tem um papel decisivo na agricultura camponesa. É um dos elementos fundamentais da constituição do espaço de liberdade proporcionado por esta forma de produzir e de viver.
Os laços de família são fortes componentes do modo de existir e da cultura camponesa. Alguns teóricos veem na reprodução da família camponesa e dos objetivos que ela própria se coloca, o grande motor da atividade econômica da agricultura camponesa.
A comunidade é um elemento central no modo de vida camponês. Destruir suas comunidades é destruí-lo por inteiro. Na comunidade há o espaço da festa, do jogo, da religiosidade, do esporte, da organização, da solução dos conflitos, das expressões culturais, das datas significativas, do aprendizado comum, da troca de experiências, da expressão da diversidade, da política e da gestão do poder, da celebração da vida (aniversários) e da convivência com a morte (ritualidade dos funerais). Tudo adquire significado e todos têm importância na comunidade camponesa. Nas comunidades camponesas as individualidades têm espaço. As que contrastam com o senso comum encontram meios de existir. Os discretos são notados. Não há anonimato na comunidade camponesa. Todos se conhecem.
Uma marca forte da agricultura camponesa no Brasil é a diversidade. Diversidade cultural a partir de raízes culturais diferentes e de jeitos diferentes de se relacionar com a natureza, pois em contato com mundos naturais diferentes. O Brasil é grande e diverso. Os camponeses brasileiros são muitos e têm na diversidade uma de suas riquezas. Soube adaptar-se ao mundo local onde fincou o pé. É por isto que o campesinato brasileiro faz de tudo, produz de tudo, de várias formas, nos diversos biomas, nos inúmeros agroecosistemas, nos centenas de microclimas, de forma integrada, convivendo com as especificidades de cada local.
A diversidade cria identidades locais e ambientais. Liga territórios, práticas sociais, ambientes e culturas. Cimenta identidades culturais que se transformam em trincheiras de resistência, de planos e utopias. Produz sujeitos políticos coletivos que lutam por direitos, por tradições, por sobrevivência e por perspectivas de futuro.
A diversidade cultural e produtiva, própria da vida camponesa, é a melhor maneira de lidar com a biodiversidade. Por isso os camponeses são os melhores guardiães da mãe natureza na arte necessária de produzir alimentos para sustentar a humanidade.
*Frei da Ordem Franciscana, militante do MPA e autor do livro “Trincheiras da Resistência Camponesa”