Água, fonte de justiça e direito: projeto viabiliza cisternas em áreas quilombolas no RS

27 de abril de 2018

Através de uma iniciativa da Comissão Pastoral da Terra do RS, com apoio do Fundo Nacional de Solidariedade da CNBB, foi realizada a instalação em Bagé uma cisterna de placas no Quilombo da Coxilha das Flores. A cisterna foi entregue para comunidade, garantindo melhor qualidade do fornecimento de água em períodos de estiagem.

Atividade teve método de trabalho pedagógico, contando com a participação dos moradores na construção. (Foto: Marciane Fisher/ICPJ)

 

No início de abril foi finalizada no município de Bagé – na região da Campanha, no RS –, a construção de uma cisterna de placa, estrutura que permite o armazenamento de água da chuva para utilização na comunidade e até mesmo consumo humano. A instalação faz parte do projeto “Água: fonte de justiça e direito”, executado pelo Instituto Cultural Padre Josimo, CPT e FNS, e que tem objetivo de implantar seis estruturas semelhantes em comunidades quilombolas de Bagé, Canguçu e Porto Alegre.

As 39 famílias que fazem parte da Associação das Comunidades Quilombolas Rurais de Palmas, localizada na comunidade de Coxilha das Flores, Distrito de Palmas, interior de Bagé, comemoraram mais esta conquista do quilombo. Vanderlei Alves de Alves, morador e Presidente da Associação, demonstrou orgulho do projeto que vai beneficiar toda a comunidade, garantido água de qualidade para as famílias: “Foi um momento muito importante pra todos nós, pois além da cisterna estar localizada num espaço comunitário, todos e todas tiveram a oportunidade de participar e aprender nas oficinas de construção da cisterna”.

A cisterna de placas é um tipo de reservatório d’água cilíndrico, coberto e semienterrado, que permite a captação e o armazenamento de águas das chuvas, aproveitadas a partir do seu escoamento até um reservatório protegido da evaporação e das contaminações causadas por animais e dejetos trazidos pelas enxurradas. O projeto surge como mais uma ação de enfrentamento da seca e dos problemas de abastecimento na região da Campanha, que vem se recuperando de mais uma grande estiagem que assolou quase um terço do território gaúcho nos últimos seis meses.

 

Participação

Um dos diferenciais que integra as atividades é a inserção dos beneficiários nas atividades de construção da cisterna, uma espécie de oficina em forma de mutirão, que além de resultar na instalação que vai beneficiar as famílias, gera partilha de saber e qualificação para que os próprios moradores possam replicar a instalação futuramente. O testemunho de Marizete Franco Alves, mãe e avó residente no quilombo, confirma o diferencial dessa pedagogia essencialmente participativa onde as famílias são as protagonistas do processo desde o início: “Essa cisterna vem para fortalecer o abastecimento, em especial no verão, onde a dificuldade de se ter água potável é maior, e como a gente participou desde o início da construção, já nos sentimos com segurança para construir a nossa lá em casa”.

 

Diferenciais

Um dos méritos do projeto é propor uma tecnologia simples, barata e familiar, para o contexto dessas famílias da região sul do estado, ou seja, resolver o problema de abastecimento de água para o consumo humano. Por enquanto foram duas construídas, uma em Bagé e a outra em Canguçu, sempre contando com o acompanhamento de um orientador que dá suporte para a construção. O projeto é financiado pelo Fundo Nacional de Solidariedade (FNS) em convênio com a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e tem como público alvo quilombolas dos municípios de Porto Alegre (Quilombo dos Alves), Bagé (Comunidade Palmas) e Canguçú (10 Comunidades). A previsão é que até o final do projeto sejam construídas seis cisternas de placas para captar água de chuva e ajudar famílias quilombolas nos períodos de seca que assolam a região.

 

Conheça mais!

O Quilombo de Coxilha das Flores conta com uma área de 370 hectares e produz uma variedade grande de produtos, tanto na agricultura quanto na pecuária, onde se destaca a criação de ovelhas, cabritos e gado. A comunidade conta com uma Rádio Comunitária, com programação própria das 07h ás 22h. Também é um local que recebe muitas visitas, considerada região de turismo, contrastando as belas paisagens com as grandes histórias de um povo lutador.

 

Por Marciane Fischer, Instituto Cultural Padre Josimo