ANTES DE TUDO, UM FORTE
*Frei Sérgio Antônio Görgen ofm
“O sertanejo é, antes de tudo, um forte”.
Com esta frase Euclides da Cunha, em seu clássico “Os Sertões”, descreve os sertanejos que encontrou no nordeste brasileiro durante a cobertura jornalística dos momentos finais da Guerra de Canudos, onde cinco expedições do exército brasileiro perpetraram o crime de destruir Belo Monte e assassinar Antônio Conselheiro.
O autor de “Os Sertões” era um típico filho da classe média do centro do país e foi para o nordeste relatar a guerra desigual entre o Exército bem armado e o heroísmo sertanejo defendendo seu mundo de suficiência e liberdade.
Aos poucos, no contato com a realidade brutal e com a vida dura do povo sertanejo, foi mudando sua visão de mundo. As pechas de “jagunços”, “fanáticos”, “bárbaros” e outras tantas comuns na elite intelectual, foram desabando na compreensão do escritor.
Sua indignação sobe às alturas quando descreve a localização do corpo do Conselheiro pelo exército, desenterrado para cortar a cabeça e exibir em praças públicas para delírio das elites da época. Euclides classificou-os de loucos e criminosos.
Apesar do grande impacto do clássico, esta visão odiosa e preconceituosa continuou ao longo da história do Brasil e continua ainda hoje. Este preconceito e ódio são contra o povo, pobres, negros, índios, mulheres, moradores das periferias, camponeses, contra todos os que não se enquadram nos esquemas mentais da elite e de parte da classe média idiotizada. E, ao longo da história, a elite escolhe um alvo para atacar, um símbolo representativo para destruir. Quebra este, quebra todos.
No passado os “alvos símbolo” foram Zumbi, Tiradentes, Antônio Conselheiro, Getúlio Vargas.
Hoje é Luiz Inácio Lula da Silva.
O plano é fazer com Lula o que fizeram com os outros e expor, com métodos midiáticos do século XXI, a cabeça na praça como fizeram com Zumbi, Tiradentes e Conselheiro.
Mas o povo pobre e trabalhador não parou no tempo, não se abateu com as derrotas do passado e seguiu aprendendo e se organizando como classe, enfrentando a exploração, a exclusão, o preconceito e o ódio das elites.
E Lula transformou-se no principal símbolo coletivo desta luta histórica no período recente. Por isto alvo de tanto ódio. Não é ele, somos todos os que não cabemos no projeto das elites. São todos os oprimidos e trabalhadores deste país. É pelo que representa que Lula tem que ser tirado de cena, humilhado, preso, destituído de direitos políticos. É o mau exemplo da atualidade para o projeto entreguista das elites econômicas e parte da classe média ambiciosa e idiotizada.
Quando iniciou a perseguição a Lula, o aparato judicial-policial-midiático tinha uma teoria: “Lula é uma estátua de gelo, se chegar fogo, derrete”. Enganaram-se. Lula é uma estátua de granito. Chamusca, mas continua de pé.
É que Lula foi forjado na têmpera sertaneja, nas agruras do povo brasileiro em suas lutas por sobrevivência e dignidade. Parafraseando ainda o autor de “Os “Sertões”, Lula é parte da rocha viva do povo brasileiro. Este o grande engano dos perseguidores. Lula fosse só ele, era de gelo. Lula é o povo, é granito.
Lula transformou-se na condensação das melhores virtudes e das mais genuínas esperanças do povo brasileiro. Representa a retomada da esperança e de um Projeto de Nação. Caso Lula fosse um vendido, um traidor do povo, tivesse virado as costas aos seus e negado de onde veio e suas origens, já estaria destruído.
Lula tornou-se um símbolo grandioso, muito maior que ele mesmo. Talvez no período recente da história da humanidade, só dois semelhantes: Gandhi e Mandela.
Cito Gandhi e Mandela por dois motivos. Primeiro, porque é a escala de grandeza que a história de lutas do povo brasileiro projetou Lula. Segundo, porque Tiradentes, Zumbi, Conselheiro e Vargas foram inocentes perseguidos e derrotados em seu período de vida biológica. Gandhi e Mandela foram vitoriosos.
Chegou o tempo da virada na história do Brasil. Lula vencerá, não importa o que tentem fazer com ele. E iniciaremos um novo ciclo de respeito, dignidade e justiça com o protagonismo dos trabalhadores organizados.
O povo brasileiro tem energia e tenacidade forjada na luta e no sacrifício, por isto, é forte. Uma missão cabe agora ao povo com Lula: tomar as ruas e o quotidiano para fazer valer o que interessa às maiorias.
Então as elites saberão e o mundo saberá que LULA É, ANTES DE TUDO, UM FORTE.
*Frei Franciscano, militante do MPA e autor do livro “Trincheiras da Resistência Camponesa”.