Aos pequenos nada, aos gigantes tudo: Bolsonaro pode perdoar R$ 17 bilhões de ruralistas
Não surpreende. Apenas confirma tudo o que já imaginávamos ter sido acordado entre quatro paredes quando foram estabelecidos os acordos para efetivar a eleição de Jair Bolsonaro. Enquanto todos os gestos do presidente eleito em direção aos pequenos denotam endurecimento das relações, retirada de direitos e perseguições político-ideológicas, no lado oposto – junto aos ruralistas – parece não haver crise econômica que justifique negar qualquer pedido, seja ele do tamanho que for.
O jornal Valor Econômico foi que noticiou a intenção do novo governo em oferecer perdão à dívidas referentes à contribuição de 2,1% à Previdência por parte dos ruralistas e seus complexos agroindustriais. Diz a reportagem do Valor:
“Sob grande pressão de setores do agronegócio desde a campanha, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, já sinalizou a interlocutores que apoia a aprovação, no próximo ano, de projeto de lei
(9.252/2017) no Congresso que concede perdão total das dívidas acumuladas por produtores rurais e agroindústrias com o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural) – um impacto da ordem de R$ 17 bilhões aos cofres públicos, pelas contas da Receita Federal”.
Trata-se de um PL criminoso e irresponsável, pois – conforme sinalizam tributaristas na própria reportagem – gera despesas para o Orçamento sem indicar receitas equivalentes, portanto ferindo a Lei de Responsabilidade Fiscal. Isso, porém, não parece intimidar os anseios dos ruralistas que podem, inclusive, construir na próxima semana – isso mesmo, no período entre os feriados de Natal e Ano-Novo – novas manobras ao apagar das luzes: Carlos Marun, Gerônimo Goergen e o próprio Michel Temer estariam articulando um encontro na quarta-feira (26), tudo com o conhecimento e consentimento do “Capitão”.
Concomitantemente o futuro governo manifesta sinais quase todos os dias sobre o ímpeto em forçar uma reforma da Previdência severa ao trabalhador, impondo medidas duras aos pequenos e sem derrubar privilégios históricos que os mais abastados acumularam. O tão propagado déficit, portanto, é um problema a ser tutelado sob responsabilidade dos que menos têm. No lado de cá, segue uma certeza: o Brasil vai pagar muito caro pelas escolhas recentes.
– Uma atividade econômica que se diz eficiente e moderna não poderia ter dificuldade de pagar uma contribuição de apenas 2,1% -, reflete o dirigente do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Frei Sérgio Görgen. “Um governo que aceite um calote de 17 bi na previdência, não terá moral para impor uma reforma previdenciária”, arremata o militante social que em dezembro de 2017 participou de uma ação extrema, entrando em greve de fome para mobilizar a sociedade contra a primeira tentativa de reforma praticada pelo governo golpista de Michel Temer.
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