Verão 2019: erva-mate com maconha, do lado uruguaio, e os hermanos ficaram em casa na Argentina

13 de fevereiro de 2019
Autor: Carlos Wagner

Erva-mate com maconha e aparelhos de ar-condicionado, do lado uruguaio. Os hermanos não vieram para o verão no Brasil, do lado argentino. Assim pode ser resumido o verão dos castelhanos. Em Rivera, o comércio mais movimentado por brasileiros; do lado uruguaio as compras estão reduzidas a dois itens: aparelhos de ar-condicionado e a erva-mate, a mate “Abulita” – Yerba mate com agregado de cannabis de uso no pesicoactivo (cáñamo). Há cinco anos, o consumo de maconha foi regulamentado no Uruguai.

 A lei do uso da maconha ainda é foco de grande discussão entre os pesquisadores e autoridades ao redor do mundo, principalmente da área de segurança pública. Mas para os brasileiros, em especial os tomadores do chimarrão espalhados pelo povoamento das fronteiras agrícolas pelos gaúchos no Brasil, a erva-mate com maconha virou uma compra obrigatória. Claro. Não tem nadaa ver com a presença do gosto pela maconha. Mas com  brincadeira, como descreveu um paranaense. “Já estou imaginando a cara do meu compadre. O convido para tomar um mate e na sua frente uso a erva “Abuelita”. Só quero ver a cara dele”. No pacote tem, em letras garrafais, um aviso que o principio ativo da maconha usado não provoca reação física. Mas isso fica em segundo plano. O que interessa é que “erva-mate com maconha” é usada para fazer brincadeira com os amigos. O preço é salgado: meio quilo custa R$ 15,00. Aqui um comentário. Quem viaja para Bolívia ou Colômbia, geralmente, traz de presente para os amigos saquinhos de chá de coca. Pelo visto, a erva-mate com maconha vai entrar no mesmo nicho desse tipo de produtos para presente. Tenho 40 anos de profissão de repórter e 68 de idade. Conheço profundamente os problemas de segurança pública da América do Sul, em particular do Brasil. A erva-mate com maconha não tem nada a ver com apologia a violência. É apenas uma brincadeira entre amigos, vizinhos e compadres.


Já a venda de aparelhos de ar-condicionado no comercio de fronteira com o Uruguai é outra conversa. De uma maneira geral, o movimento no comércio em Rivera, o maior centro de compras para brasileiros em território uruguaio, está discreto devido ao valor do dólar – R$ 3,70. Mas o forte calor que estacionou no Rio Grande do Sul tem lavado levas e levas de pessoas da Região Metropolitana de Porto Alegre e das cidades vizinhas a Caxias do Sul para comprar aparelhos de ar-condicionado no Uruguai. Em média, o preço é 50%, mais barato. No último fim de semana, dezenas de veículos brasileiros estavam nos estacionamentos dos hotéis com o equipamento no porta-malas. A questão dos argentinos. Por conta do livro-reportagem que estou fazendo, “De pai para filho”, nos últimos 20 dias rodei uns 6,5 mil quilômetros pelo Rio Grande do Sul,  pelo oeste de Santa Catarina e do  Paraná e pelo Meio- Oeste (Mato Grosso do Sul e Mato Grosso). Andei muito na rota que os argentinos usam para ir às praias catarinenses. E a escassez de turistas vindos da Argentina chama a atenção. Conversei com os fiscais da fronteira, do lado brasileiro, em Barracão (PR) e Dionísio Cerqueira (SC), e com os da Argentina, em General Irigoyen, em duas oportunidades. Uma delas, no meio do mês de janeiro, e a outra, uma semana depois. Pelas contas dos fiscais, o movimento de turistas argentinos havia caído em mais de 70%. Essa fronteira é uma ponto muito usado pelos argentinos que vão para as praias de Santa Catarina, vindos do norte da Argentina. No Rio Grande do Sul, eu falei com comerciantes ao longo da BR-290 (Porto Alegre a Uruguaiana) e, pelas contas deles, o fluxo de argentinos caiu muito. Inclusive conversei com alguns comerciantes que deixaram de contratar pessoas extras para atender os turistas. Falei com argentinos que encontrei pelo caminho. Eles alegam que a situação econômica do país está muito complicada.


A temporada de verão ainda tem muito pela frente. O que significa que o fluxo de turistas argentinos pode melhorar. Já aconteceu antes. Como também a cotação do dólar pode baixar, tornando as compras no Uruguai uma opção para os brasileiros. Seja lá qual for o futuro, o importante é que os vendedores de erva-mate uruguaios estão vendendo bem por conta do espírito de brincadeira dos brasileiros, principalmente os tomadores de mate. Uma observação: várias marcas de erva estão usando princípios da maconha. A preferência pela “Abulita” é porque ela traz escrito, em letras garrafais no pacote, o uso do princípio ativo. Claro, com a advertência que não causa dano à saúde. Mas advertência não interessa. É apenas uma brincadeira.

 

Carlos Wagner

Reporter

 

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