Artigo | Alguns dias no cargo e o ministro da Saúde Teich virou fantoche de Bolsonaro

24 de abril de 2020
Autor: Carlos Wagner

Carlos Vagner, jornalista.

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Uma leitura atenta dos conteúdos dos noticiários dos últimos dias sobre as ações do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido, RJ) na guerra ao coronavírus mostra que o pilar central do plano de ação governamental é o controle da informação que abastece a imprensa. Vamos aos fatos. Com a desculpa de que precisa saber o que está acontecendo, o ministro da Saúde, o médico Nelson Teich, 62 anos, que assumiu o cargo na sexta-feira (17/04), ainda não apareceu no front da batalha contra o vírus. Aqui chamo a atenção dos meus colegas para o seguinte: o país vive uma emergência sanitária, portanto, tudo é urgente. O ministro era consultor de empresas na área da saúde. Logo, é bem informado sobre o setor. E o Ministério da Saúde tem um quadro de técnicos qualificados e uma tecnologia de ponta com informações disponíveis para o ministro.

Na noite de segunda-feira (20/04), a conclusão que as redações dos jornais chegavam era que o novo ministro não foi convidado para o cargo pelo presidente da República para explicar à população o que estava acontecendo, a exemplo do que fazia todos os dias o seu antecessor, o médico Luiz Henrique Mandetta. Mas apenas por ser médico, o que indicava que o governo continuaria seguindo a ciência no combate ao vírus. Na realidade, a sua função será ficar entrando e saindo de reuniões. Para o lado operacional do Ministério da Saúde, Bolsonaro convidou o general-de-divisão Eduardo Pazuello, atual comandante da 12ª Região Militar, com sede em Manaus (AM). O general é especializado em logística – que é a ciência que coloca os recursos e as informações nas mãos dos gestores. Foi esse o seu trabalho na Operação Acolhida – recepção de imigrantes venezuelanos –, de março de 2018 a janeiro de 2020, em Roraima. Também foi coordenador logístico das tropas do Exército nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio de Janeiro, em 2016.

Se Pazuello aceitar o convite ele será nomeado secretário-executivo do ministro Teich, o cargo que era exercido pelo gaúcho João Gabbardo. Na prática, o general será os olhos e os ouvidos de Bolsonaro na Saúde. Esse é o cenário com o qual nós jornalistas vamos trabalhar daqui para frente. Alerto os meus colegas jovens repórteres que fazem um monte de pautas diárias: cuidado com as cascas de banana que são espalhadas pela máquina de distorcer a verdade instalada pelo gabinete do ódio, o círculo de pessoas íntimas ao presidente da República. Todo esse esquema tem como objetivo preservar os interesses políticos da família Bolsonaro, que estavam sendo contrariados pela ação do ex-ministro Mandetta. O governo não está agindo por patriotismo. Mas por interesse político. Faz parte do jogo. É importante que nós repórteres saibamos com clareza o que está rolando, porque o momento que vive o nosso leitor é muito especial. A população dos grandes centros urbanos está com os nervos à flor da pele. As imagens dos noticiários das TVs de caixões, sepulturas e valas comuns abertas nos cemitérios para as vítimas do coronavírus despertam o sentimento nas pessoas de que elas podem ser a próxima vítima do vírus, que infectou 43 mil pessoas e matou 2.741 no Brasil até 21/4. No mundo eram 2,5 milhões de infectados e 180 mil mortos. E quando tudo isso terminar, o cenário econômico será catastrófico, na previsão dos economistas. Dentro desse contexto, a informação correta do que está acontecendo é fundamental para o nosso leitor.

Na cobertura que estamos fazendo da guerra ao coronavírus estamos mostrando dois cenários para o nosso leitor. O primeiro, e mais apavorante, é o colapso do sistema hospitalar que está ocorrendo no Amazonas, com 2,2 mil infectados e 193 mortes (21/04). Nos hospitais de Manaus, os cadáveres estavam pelos corredores dos hospitais enquanto os coveiros abriam valas comuns para enterrá-los nos cemitérios. Uma situação que pode se repetir no Rio de Janeiro – 4,9 mil infectados e 423 mortes (20/04). Aqui um alerta aos meus colegas: a vala comum na distante Manaus é uma coisa, no Rio de Janeiro é outra. O Rio é o cartão-postal do Brasil. Assim como Londres é o da Inglaterra e Nova York, dos Estados Unidos. Tudo o que acontece nessas cidades vira notícia ao redor do mundo. A outra situação é a que está acontecendo no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Nesses estados, o plano de flexibilização do isolamento social está bem avançado. O que significa uma luz no fim do túnel. Falam os especialistas que os próximos 10 dias serão definidores do que irá acontecer na guerra contra o coronavírus. Se o presidente Bolsonaro inventar de fazer uma pirotecnia como a que fez no domingo (19/04), quando discursou para um grupelho que pedia a volta da ditadura militar na frente do Quartel-General do Exército, em Brasília, ele pode complicar tudo para todo mundo. É simples assim.