Artigo | Mandela Day, o homem por trás do mito

18 de julho de 2020
Autor: Maister F. da Silva

Maister F. da Silva*
Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
18 de Julho de 2020
 

 

O Dia Internacional Nelson Mandela é uma comemoração instituída pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas em novembro de 2009, a ser comemorado em todos os anos 18 de julho, data de nascimento do líder sul-africano Nelson Mandela.

Muito já foi dito sobre esse homem de sorriso franco e braços abertos capazes de acolher do mais jovem militante anti-sistema à toda uma nação humilhada e vazia de esperanças. Mandela é isso e muito mais. É símbolo de firmeza e altivez na luta contra o último regime declaradamente nazista, que persistiu até meados da última década dos anos 1.900. Foram 27 anos como refém dos nazistas africâners, que tentaram a todo custo lhe usar como moeda de negociação para acalmar os ânimos do povo sul-africano.

Mandela jamais aceitou ceder a seus princípios, manteve-se firme, alicerçado nas lutas que lhe forjaram como indivíduo e sujeito coletivo, antirracistas, igualitárias, libertárias, anticapitalistas, antiimperialistas e de soberania nacional. Mandela lutou contra o racismo e pela igualdade entre todos os seres humanos, esse é seu grande legado. Sua capacidade de perdão é algo incomensurável e fez dele um dos maiores homens da história da humanidade.

O Dia Internacional Nelson Mandela é um marco e deve ser comemorado. Todavia, deve ser interpretado na seara da disputa que representa o seu legado e sua simbologia. As grandes potências imperialistas acostumadas a saquear as riquezas e humilhar os povos africanos empenharam-se em imprimir a interpretação mentirosa do líder pacífico e obediente as leis e normas, como se sua luta fosse travada em júris e tribunais, apenas. A construção da face pacifica e obediente de Mandela tem caráter político e ideológico. Apresentar ao mundo um líder negro de tamanha estatura que coordenou a luta de milhares de famélicos, estrangeiros em sua própria terra, tendo vivido boa parte da vida na clandestinidade ainda hoje pode soar perigoso ao establishment.

Mandela foi enquanto jovem estudante, um ativista da não-violência, um revolucionário em idade adulta e um ancião pacifista. Isso jamais fez do homem um neutro. Jamais Mandela foi o “negro que o branco gosta”.

Mandela afirma em suas memórias: “Sempre é o opressor, e não o oprimido, quem determina a forma da luta. Se o opressor utiliza a violência, o oprimido não tem outra escolha do que responder com violência”. Baseado nesse ideal ele manteve-se honesto em seus princípios, também como estadista, apoiou iniciativas diplomáticas e reconheceu o Estado da Palestina a ponto do Congresso Nacional Africano (CNA) e a Organização pela Libertação da Palestina (OLP) identificarem a si mesmos como “irmãos em armas”, apoiar a soberania da Líbia e manter relação de amizade e cooperação com Cuba, a Cuba que ajudou dezenas de países africanos a conquistarem a sonhada independência e mantêm milhares de médicos até hoje ajudando as comunidades africanas empobrecidas.

Assim eu conheci e interpreto Mandela, assim eu quero que os meus conheçam Mandela, insubmisso, de sorriso largo e braços abertos. O negro que as nações brancas do ocidente não conseguiram domesticar, nem a biografia.