Artigo | PMs apoiariam a bravata golpista de Bolsonaro recusada pelas Forças Armadas?
Carlos Wagner
Jornalista
Entre os descendentes dos colonos italianos espalhados pelos quatro cantos do Rio Grande do Sul e pelas fronteiras agrícolas povoadas pelos gaúchos ao norte do Rio Uruguai é muito comum o uso da palavra bravata para designar a ação de uma pessoa que não é verdadeira, mas é vendida como se fosse. É o caso da ameaça de golpe militar feita no domingo (03/05) pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), durante uma manifestação em frente ao Palácio do Planalto, organizada pelos seus apoiadores. Bolsonaro disse que tinha o apoio das Forças Armadas. O presidente foi desmentido e criticado pelo uso indevido dos militares da ativa – há dezenas de matérias disponíveis sobre o assunto na internet. Como falam os gaúchos: Bolsonaro é um bravateiro, ele descende de imigrantes que vieram do norte da Itália.
Vamos aos fatos. De concreto ficou a mensagem de Bolsonaro, que está circulando pelas redes sociais e sendo usada como munição pelas bases bolsonaristas alimentadas pelo Gabinete do Ódio, como são chamadas as pessoas que fazem parte do círculo íntimo do presidente, entre elas os filhos Eduardo, 35 anos, deputado federal por São Paulo, Carlos, 37, vereador do Rio, e Flávio, 38, senador do Rio de Janeiro. Quero chamar a atenção dos meus colegas, em especial dos jovens repórteres, para um grupo de bolsonaristas sobre o qual temos pouca informação: os policiais militares. Antes de seguir, é preciso deixar bem claro que não estamos tratando das milícias formadas por bandidos infiltrados entre os PMs. Ser um policial militar bolsonarista não significa que seja miliciano. Estamos falando dos que seguem a lei, que são a enorme maioria dos 420 mil policiais militares brasileiros. Voltando à história. Em 2018, as entidades dessas categorias foram cabos eleitorais do então candidato Bolsonaro, como descrevi no meu post de 22/02 “Os policiais militares do Brasil se consideram traídos pelo presidente Bolsonaro”. O assunto se referia à greve dos PMs do Ceará (fevereiro/2020).
Há hoje um confronto pelo poder nas associações representativas dos PMs travado entre bolsonaristas e os líderes atuais. Por considerar o voto e o trabalho de cabo eleitoral dos PMs essenciais para a reeleição do presidente, o Gabinete do Ódio está investindo pesado na troca das direções das associações. O que sabemos desse confronto? Que ele foi acirrado na greve dos policiais militares do Ceará. As lideranças tradicionais esperavam que o presidente mandasse um negociador, ele mandou tropas federais. O que não sabemos sobre essa disputa? Muita coisa que deveríamos saber, começando pelo básico “quem é quem” na disputa. Esse nosso pouco conhecimento é perigoso, porque quando as greves estouram, geralmente são violentas, como foi o caso do Ceará, onde deixamos muito a desejar nos conteúdos dos noticiários. Há várias teses para a violência das greves dos policiais militares. Uma deles merece especial atenção: eles ganham pouco, trabalham demais e precisam complementar a renda fazendo bicos de segurança privada, o que não é legalmente permitido pelas corporações. Isso o torna uma pessoa com os nervos à flor da pele, eu testemunhei isso em várias ocasiões. Pergunto: qual o poder das fake news disparadas pelo Gabinete do Ódio entre os PMs? Soubemos e publicamos o que os oficiais falam. Mas pouco ou nada sabemos sobre o efeito que elas causam entre os graduados (cabos e sargentos) e os soldados. Por exemplo, como chegou para as tropas a bravata de Bolsonaro sobre o golpe militar? A história nos ensina, e quem duvidar basta consultar a biografia de ditadores como Getúlio Vargas (Brasil, 1930/45), Adolfo Hitler (Alemanha, 1934/45) e Benito Mussolini (Itália, 1922/43), que esses personagens mostram o poder que têm uma mentira implantada entre os necessitados.
Aqui é o seguinte. Se o Gabinete do Ódio conseguir manipular as tropas das polícias militares do Brasil, incluindo a Brigada Militar (BM) do Rio Grande do Sul, vão ter um poder real nas mãos. Por quê? Diferentemente das Forças Armadas, em que a maioria dos soldados e graduados são temporários, os praças das polícias militares são profissionais e a maioria é bem treinada e armada. Nós repórteres precisamos saber com segurança qual é a influência real do bolsonarismo entre os policiais militares. É um assunto importante para o nosso leitor.