"Eu tenho um sonho" (51 anos da morte de Martin Luther King)
Autor: Michele Corrêa
“Eu acredito que a verdade desarmada e amor incondicional terão a palavra final na realidade”.
Passados 51 anos do assassinato de Martin Luther King seu legado, sua utopia e luta para que os filhos dos descendentes de escravizados e os filhos dos descendentes de donos de escravizados possam sentar-se juntos à mesa da fraternidade permanece viva…
Uma bala disparada a partir de um rifle interrompe a trajetória do maior pacifista de todos os tempos. Era 04 de abril de 1968, na cidade de Memphis, Estados Unidos. Luther King dava seus últimos passos na sacada do Hotel Lorraine, quando um projétil atinge seu rosto, desfazendo seu maxilar, tamanho é o impacto que seu corpo é jogado contra a parede. Meia hora depois do atentado, no hospital local, se confirma o que se torna o pesadelo real dos negros dos Estados Unidos, que sonhavam com uma sociedade mais igualitária, a morte de Martin Luther King Jr. Encerrava ali a vida de um dos maiores ativistas de todos tempos, que em 13 anos — entre 1955 e 1968 — promoveu uma verdadeira revolução nos direitos civis dos negros norte-americanos, que o tornou exemplo para mundo do poder do ativismo na luta contra a desigualdade racial baseada em preceitos de não-violência, impulsionando-o como uma das figuras públicas mais conhecidas ainda hoje.
Um único tiro, uma vida ceifada e uma utopia semeada para nunca deixar de dar frutos.
Sonho que os homens levantar-se-ão, um dia,
e compreenderão enfim que foram feitos
para viver juntos como irmãos.
Sonho também, nesta manhã, que, um dia, cada negro deste país,
cada homem de cor do mundo inteiro,
será julgado pelo seu valor pessoal
e não pela cor de sua pele, e que todos
respeitarão a dignidade da pessoa humana.
Sonho ainda que, um dia,
as indústrias moribundas dos Apalaches readquirirão vida,
que os estômagos vazios do Mississipi serão alimentados,
que a fraternidade tornar-se-á
algo mais que palavra ao final de uma prece,
e que ela será, ao contrário,
o primeiro assunto a ser tratado
na ordem do dia legislativo.
Sonho que um dia
a justiça jorrará como água,
e o direito como um rio vigoroso.
Hoje sonho que,
em todas as altas esferas
do Estado e em todas as municipalidades,
entrarão cidadãos eleitos
que restituirão a justiça,
amarão a piedade e caminharão humildemente
nos caminhos de seu Deus.
Sonho que, um dia,
a guerra terá fim,
que os homens transformarão
suas espadas em relhas de arado
e suas lanças em podadeiras,
que as nações não se levantarão mais
umas contra as outras
e que não visarão mais à guerra.
Sonho que, um dia,
o leão e o cordeiro
deitar-se-ão um ao lado do outro,
que todos os homens sentar-se-ão
sob suas parreiras e figueiras,
e que ninguém mais terá medo.
Hoje sonho que
todo vale será elevado,
que toda montanha e colina
serão abaixadas,
que os caminhos desnivelados
serão aplainados
e que os caminhos tortuosos
serão endireitados,
que a glória de Deus se revelará
e que toda carne, enfim reunida, há de vê-la…
Sonho que, graças a essa fé,
seremos capazes
de repelir as tentações do desespero
e lançar uma nova luz
sobre as trevas do pessimismo.
Sim, graças a essa fé,
seremos capazes de apressar
o dia em que a paz
reinará sobre a terra
e a boa vontade, entre os homens.
Será um dia maravilhoso,
as estrelas da manhã cantarão juntas
e os filhos de Deus
bradarão em gritos de alegria.Martin Luther King Jr.
(Fonte: Faustino Teixeira & Volney Berkenbrock. Sede de Deus. Orações do judaísmo, cristianismo e islã. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 154-156.)
Martin Luther King Jr. foi um pastor protestante e ativista político estadunidense. Tornou-se um dos mais importantes líderes do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos e no mundo, com uma campanha de não violência e de amor ao próximo.
Seus esforços levaram à Marcha sobre Washington de 1963, onde ele fez seu discurso “I Have a Dream”. Em 14 de outubro de 1964, King recebeu o Prêmio Nobel da Paz pelo combate à desigualdade racial através da não violência. Nos anos que antecederam a sua morte, ele expandiu seu foco para incluir a pobreza e a Guerra do Vietnã, alienando muitos de seus aliados liberais com um discurso de 1967 intitulado “Além do Vietnã”. King foi assassinado em 4 de abril de 1968, em Memphis, Tennessee. Ele recebeu postumamente a Medalha Presidencial da Liberdade em 1977 e Medalha de Ouro do Congresso em 2004; o Dia de Martin Luther King Jr. foi estabelecido como feriado federal nos Estados Unidos em 1986. Centenas de ruas nos EUA também foram renomeadas em sua homenagem.
Michele Corrêa*
Graduanda em Filosofia na UFPel, Feminista Negra,
Assessora da Pastoral da Juventude (PJ) e
Militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA)