O 7 a 1 de nosso cotidiano golpista


A eliminação da Alemanha da copa da Rússia proporcionou uma fugaz alegria a tolinhos de todo o gênero. A leitura que fizeram é primária: a Coreia vingava o Brasil dos vergonhosos 7 a 1 da copa de 2014. Estamos de “alma lavada e enxaguada”, como diria aquele personagem de Dias Gomes.

Será mesmo?

E os outros 7 a 1 que nos rebaixam todos os dias aqui no Brasil e que ocorrem com mais frequência e contundência depois do golpe de Estado de 2016?

Primeiro vamos conceituar (essa categoria está tão vulgarizada que outro dia vi um anúncio de imóvel com a afetada chamada “cozinha em conceito aberto”) o que quero dizer com 7 a 1 – a metáfora aritmética do vexame.

Me explico: 7 a 1 é a derrota torpe, o opróbrio vil, a submissão heteronômica, a desonra cívica e pública, a degradação social e institucional e a servidão voluntária.

Acaso não é 7 a 1 a recente aprovação na Câmara dos Deputados da Lei dos Venenos, que legaliza o comércio de mais 15 agrotóxicos no País, sabendo-se que somos os maiores consumidores mundiais de venenos alimentares?

Acaso não é 7 a 1 a manobra do ministro Fachin para evitar o exame de um habeas corpus ao ex-presidente Lula, hoje um reconhecido preso político no País?

Acaso não é 7 a 1 a suspensão da ação judicial contra a mineradora Samarco (controlada pelas gigantes mundiais da mineração, Vale e a australiana BHP Billinton). O processo, no valor de 155 bilhões de reais, é referente ao acordão entre os acionistas da empresa e o Ministério Público Federal, a União, o estado de Minas Gerais e o estado do Espírito Santo. O colapso da estrutura, em novembro de 2015, deixou 19 pessoas mortas, centenas de desabrigados, destruiu o subdistrito de Bento Rodrigues (Mariana, MG), devastou a bacia do rio Doce e é considerado o maior desastre ambiental da história do país.

Acaso não é 7 a 1 a tratativa abjeta do impostor Temer com o sub do sub de Trump onde o golpista cede o espaço aéreo do Brasil para livre trânsito das aeronaves do Império?

Acaso não é 7 a 1 a cessão de uso da estratégica Base de Alcântara para que os EUA lá façam o que bem entendem, sobretudo um enclave militarizado no coração do Brasil?

Acaso não é 7 a 1 os leilões entreguistas de vastos territórios do pré-sal às petroleiras internacionais, sabendo-se que assim o País renuncia às divisas que poderiam fomentar a educação, a saúde e a pesquisa científica?

A lista do nosso 7 a 1 de cada dia é grande, e os leitores podem completá-la melhor do que eu.

Quem nos dera se o 7 a 1 fosse apenas uma miséria menor do futebol esquecida nas dobras da nossa ingênua memória juvenil.

 

Cristóvão Feil

Sociólogo

 


Foto de Marcelo Camargo/Agência Brasil

Na fotografia, outro exemplo de 7 a 1: o ministro das Relações Exteriores do Brasil (governo da impostura Temer), Aloísio Nunes Ferreira, faz uma mesura obsequiosa e afetada ao vice-presidente dos EUA, Mike Pence, o sub do sub de Donald Trump, em recente visita a Brasília. O gesto de Aloísio retrata simbolicamente como os golpistas (tucanos e emedebistas) se vêem frente aos EUA: submissos, bajuladores e sabujos.