Um refém no Planalto

17 de fevereiro de 2019
Autor: Maister F. da Silva

No Brasil e no mundo são incontáveis os casos de pessoas que conseguem criar personagens que encantam multidões. Eles têm o poder de arregimentar um notável número de fãs, que – ensandecidos – fazem de tudo para manter-se perto da celebridade e, quando não conseguem, atuam como seus advogados de defesa a todo e qualquer escorregão de ordem moral, ética e até pessoal. Isso pode acontecer com atores, cantores, atletas, humoristas, etc.

Ocorre que a fama é como uma viúva-negra: acaricia, mas também mata. Quantos cantores são lembrados por apenas uma música, atletas por uma única vitória, atores e humoristas presos a um único personagem? Não é estranho a ninguém que muitos profissionais entram em depressão com o anonimato. Poucos conseguem longevidade com um personagem único, ele precisaria de uma constante reciclagem para manter-se competitivo no mercado do entretenimento.

A fama esvai-se tão repentinamente, quanto o sucesso arrebata. Os fãs facilmente substituem seu apreço pelo novo sucesso do momento, restando os pequenos fã-clubes empedernidos que nem o artista quer lembrar, para não sofrer com a memória de quando era o queridinho de todos.

Bolsonaro é um destes artistas. É refém de um personagem que agora não consegue (e não pode) desvencilhar-se. E na política não há espaço para dramaturgos e atores de quinta categoria no alto escalão. Após quarenta e cinco dias de governo, o personagem já não consegue reciclar-se, vê-se preso a uma interpretação que não conseguiu sair do picadeiro e desfilar no salão do teatro principal. A cada de crise evidencia-se o isolamento de sua trupe. Nem o ator principal, nem os coadjuvantes conseguem mais fazer a plateia sorrir.

O fantasma do presidente é a falta dos aplausos. Acostumou-se a contar anedotas, piadas e mentiras que levavam seus fãs ao delírio, não conseguirá dormir sabendo que está sendo relegado ao divã dos desprezados. As fotos de chinelo e paletó, de camiseta falsificada, são parte do personagem em decadência agarrando-se aos últimos sopros da fama, que lhe escapa entre os dedos.

O picadeiro da Câmara até suporta algumas aberrações, quando reservadas ao baixo clero, de onde saiu o artista presidente. Mas não basta foto de chinelo, camiseta falsa e piadinha no Twiter para continuar contracenando no Planalto.

 

Maister F. da Silva

Militante do MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores)