Camponeses, projetos sociais, economia solidária e Igreja viabilizam doação de alimentos para indígenas
Por: Marcos Antonio Corbari
Ao encerrar a 25a edição da Feicoop, Feira Internacional Jubilar do Cooperativismo e Economia Solidária, as lideranças ligadas ao evento e ao movimento camponês foram surpreendidas por um pedido de socorro: uma comunidade indígena de Iraí, localizada nas proximidades da BR 386, estava precisando de ajuda, seus integrantes já estariam passando fome no local.
Frei Sérgio Görgen, diretor do Instituto Cultural Pare Josimo e dirigente do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) recebeu a mensagem do cacique Isaias da Rosa Kaigo relatando a situação e pedindo por ajuda. De imediato compartilhou a informação com Irmã Lourdes Dill, que coordena a Feicoop e exerce a vice-presidência da Cáritas/Brasil. A partir deste momento uma corrente do bem foi se estabelecendo para amenizar o sofrimento dos irmãos e irmãs indígenas de Iraí.
– Fomos desafiados a um gesto concreto, profético e solidário em favor de uma comunidade indígena que simplesmente passava fome, o que clama ao céu, pois o alimento é um Direito Humano -,comentou Irmã Lourdes. Ela explicou como se procedeu a arrecadação de mais de meia tonelada de alimentos, composto entre o excedente não utilizado nas refeições da Feira, doações espontâneas dos participantes do evento, solicitações de outros parceiros da cidade e, para completar, a generosa participação do Banco de Alimentos de Santa Maria e do Projeto Esperança/Cooesperança.
O Franciscano Görgen ressalta que a necessidade de alimento expressa pelos Kaigang de Iraí não é um caso isolado, ao contrário, o cotidiano da fome está cada vez mais presente no país que há pouco tempo orgulhava-se de ter erradicado esse mal: “A fome não está de volta só nas aldeias indígenas, é hora do povo se levantar”, desafiou.
Os integrantes da comunidade Goj Veso (Encontro das Águas, remetendo ao ponto próximo onde os rios Uruguai e Várzea se unem), formada por famílias da etnia Kaingang, completaram dois anos de residência fixa na antiga área e estrutura da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que lhes foi repassada em julho de 2016. A comunidade é composta por 34 famílias, contando com aproximadamente 150 indivíduos. Segundo informações locais, ali estão presentes 57 crianças em período escolar e pelo menos 20 crianças de colo, com menos de 5 anos. A população jovem é formada por cerca de 45 índios e índias.
As doações foram conduzidas de Santa Maria até a aldeia em Iraí pelo dirigente do MPA e presidente da cooperativa Camponesa Cooperbio Marcos Joni Oliveira e pela estudante de jornalismo da UFSM e militante do movimento Graciely Plack Thalheimer. Os custos do transporte foram divididos com o Instituto Cultural Padre Josimo, garantindo que a referida corrente do bem alcançasse o objetivo de amenizar a distância entre Santa Maria, na região central do RS, e Iraí, na exteemidade noroeste.
Irmã Lourdes renovou o chamado para que em agosto se possa viabilizar mais uma doação de alimentos para a aldeia, bem como apelou às comunidades mais próximas e autoridades locais para que sensibilizem-se com a situação dos irmãos e irmãs indígenas que ali estão instalados. Para reafirmar o convite a todos que puderem participar de ações como essa, a religiosa relembrou um provérbio africano que diz que “muita gente pequena, em muitos lugares pequenos, fazendo coisas pequenas, mudarão a face da Terra”.
Marcos Corbari / Jornalista e Militante do MPA
Com informações da Assessoria da Cooperbio e do projeto Esperança/Cooesperança
Fotos: Graciely Plack Thalheimer
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