Desabamento, exclusão e cidade do capital (artigo de Leonardo da Rocha Botega)

1 de maio de 2018

Prédio em chamas, pouco antes de desabar (foto: Corpo de Bombeiros de São Paulo)

A cidade do capital transforma o centro, que era local de moradia, em local de comércio. Se preciso for ela compulsoriamente te expulsa de lá e te paga uma indenização que te permite ir morar na periferia. Tudo em nome de um tal “progresso”. Este tal “progresso” chama o teu trabalho de custo e te paga um salário que não te permite vestir, comer, pagar passagem para ir ao centro trabalhar e pagar os custos da casa. Então é hora de uma opção. A opção de muitos é reduzir os custos com a casa. Por isso ocupam.

 
Durante muitos anos ninguém dá a mínima para o local que você ocupou como nova casa. Pouco importa se era um prédio público abandonado há muitas décadas. Reservado para ser usado em um leilão especulativo onde ninguém teve condições de pagar os R$ 21,5 milhões pedidos. Para a cidade do capital, o prédio e os moradores são invisíveis. Ambos devem ser exterminados, são “inúteis”.
 
Então em uma madrugada o prédio queima e cai. Seu extermínio realiza o desejo da cidade do capital de ter mais um terreno para ser especulado. Alguns de seus moradores também são exterminados, ninguém sabe os seus nomes. Irão para a vala comum dos milhares de excluídos que morrem todo dia. Os demais, aqueles terão que recomeçar a vida, são tratados como culpados. Afinal, a ideologia da cidade do capital, essa fábrica de produção de idiotas, não aceita que ninguém se coloque no lugar do outro. Solidariedade não é parte do seu vocabulário. É um termo que só pode ser usado por quem se nega a aceitar a condição de idiota.
 
Nossa total solidariedade aos seres humanos que perderam tudo no desabamento em São Paulo!
 
Leonardo da Rocha Botega
Historiador, professor da UFSM;
Mestre em Integração Latino-Americana pela UFSM;
Doutorando em História pela UFRGS.