Frei Aluísio Fragoso e voluntários da Tenda da Fé passam período na Vigília Lula Livre


Para muita gente que não o conhece, pode ter sido uma surpresa a decisão de Frei Aluísio Fragoso em seguir de Recife – onde atua – para Curitiba em seu período de férias para passar o período junto dos militantes sociais que empreendem em frente à Polícia Federal a Vigília em apoio ao presidente Lula, que segue há oito meses como preso político. Quem o conhece, porém, não se surpreende: o franciscano, além de ser muito respeitado no ambiente religioso, também é um militante envolvido de forma intensa com as demandas do povo. E neste momento histórico sua decisão não poderia ser outra, se não estar junto com o povo que se vê representado em Lula.

– Sou um apaixonado pelo ideário de São Francisco e assim também um apaixonado pela causa dos pobres deste mundo -, expressa ao se apresentar. “Até hoje meu sonho, minha paixão, minha utopia é fazer alguma coisa para que esse mundo não seja mais de pobres e ricos, de opressores e oprimidos, de dominadores e dominados, e sim um mundo de irmãos como queria São Francisco”, acrescenta Frei Aluísio, que como Frade Franciscano atua há 39 anos junto à população que vive sob risco social constante na capital pernambucana. “É por eles também que estou aqui”, alinhava com simplicidade ao explicar o motivo de assentar-se por 30 dias junto à Vigília Lula Livre, sempre lembrando da sua comunidade de origem.

– Lula é alguém para quem a gente olha e vê que o povo está nele, que o futuro do povo está nele -, explica. Para Frei Aluísio, a prisão política a que Lula está sujeito reafirma o caráter de mito e, como todos os mitos, está passando pelas provas de fogo e de sangue. “O que está acontecendo aqui é isso, um momento dialético desse processo de luta pela justiça, pela verdade e pela paz”, acrescenta. “Não se trata de um mito ilusório, o que Lula representa é o que vem de sua vida, de suas ações, da realidade concreta e da repercussão que ele tem no coração do povo”, completa. Para ele, a figura do ex-presidente representa uma referência transformadora e libertadora.

Frei Aluísio demonstra voz calma e tom conciliador, mas sem recear na hora de utilizar palavras fortes, mostrando a convicção de alguém que, aos 77 anos, segue dedicando suas palavras a movimentar os acomodados e acordar as consciências. Acompanhado por companheiros e companheiras do movimento chamado Tenda da Fé, transformou o período de férias em um momento de colocar-se à serviço, mas também de aprender: “Logo que chegamos aqui, eu trazia uma ideia de Lula Livre, e essa ideia mudou, já não se trata só de lutar pela liberdade física de Lula, mas de compreender o que isso significa”. O religioso explicou que a ideia era conhecer Curitiba e a Vigília, mas ali estava simbolicamente conhecendo o Brasil inteiro através dos companheiros e companheiras dos quatro cantos do país que irmanaram-se para acolher, confortar e fortalecer Lula através da vigília permanente em defesa de sua liberdade.

– Quando eles aprisionaram Lula, eles me aprisionaram, aprisionaram você, aprisionaram todos aqueles que pensam fora dos parâmetros deles -, explicou. “Mas aí o tiro saiu pela culatra, porque o que está acontecendo aqui é que esse grito que ecoa pelo Brasil inteiro – o nosso grito de manhã, de tarde e de noite – tornou-se um foco de irradiação e eu tenho certeza de que isso transcende, que o foco de irradiação está tendo o efeito de quebrar as correntes que nos prendem, eu acredito que essas correntes vão se romper”, afirma. “De dentro de seu cárcere, Lula se torna mais do que um indivíduo, ele se torna um cidadão do Brasil, da América Latina e do mundo”, arremata.

Finalizando a conversa, Frei Aluísio fez questão de deixar um recado para todos aqueles que pelos mais diversos motivos estão receosos de irmanar-se às lutas populares e à resistência frente aos abusos que estão se desenhando em nosso tempo: “Nós podemos até nos entristecer, mas não podemos permanecer na tristeza. Podemos sentir medo, mas não podemos permitir que o medo impeça os nossos movimentos, o nosso avanço. Devemos batalhar como um guerreiro que tem a calma e a certeza de que quem luta pela causa da justiça e por isso já tem por antemão a garantia da vitória”.

Marcos Corbari – Nádia Brixner