Grupo Flor(E)Ser Agroecológico comemora 3 anos no RS

22 de outubro de 2020
Por: Mateus Além

Mateus Além – Jornalista

Via MPA Brasil. Publicação orignal AQUI.

À sombra de um pé de manga, em um 20 de outubro, camponeses e camponesas iniciavam a Feira Agroecológica em Paraíso do Sul, RS. E com ela fortaleciam o Grupo Flor(E)Ser Agroecológico. Hoje, estão comemorando 3 anos de atividades e construções coletivas. “O desafio de produzir alimentos saudáveis com respeito ao meio ambiente e de construir novas relações entre as pessoas faz com que nosso modo de vida se misture com esta bela missão”, comemora Rosiéle Ludtke, camponesa e dirigente do MPA no munícipio.

Parece pouco tempo, mas há muito o que se comemorar. É sobre autoestima e autonomia camponesa. Antes deste período, as famílias integrantes do grupo agroecológico eram submetidos à cadeia produtiva do tabaco. “É um regime de subserviência dos agricultores, que recebem todos insumos em casa, assistência técnica, mas na hora da comercialização ficam reféns as regras estabelecidas pelas empresas fumageiras, e não tem nenhuma influência sobre o preço pago e a classificação do produto”, explica Rosiéle.

O grupo organiza toda a produção, logística e também comercialização. Inicialmente as famílias camponesas iniciaram a conversão de suas propriedades para a produção de alimentos como grãos, hortaliças e frutas orgânicas com a ajuda da Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul) e o MPA. Colocando a importância social da Emater, que nos últimos períodos vêm sendo desmontada. A comercialização iniciou no Feirão Colonial, em Santa Maria. Localizado nas dependências do projeto Esperança/Cooesperança, ligado a muitos projetos de economia solidária que ocorrem. Depois veio a possibilidade de realizar também Paraíso do Sul.

 

A certificação de qualidade orgânica

Depois de organizarem a comercialização em Santa Maria e Paraíso do Sul foi a vez de procurarem a certificação de produção orgânica. Conseguiram na modalidade OCS, que é o Organismo de Controle Social. Nesta modalidade a certificação é realizada através de auditoria do fiscal do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) e das visitas de trocas entre as famílias que irão participar do processo de certificação. A OCS garante aos agricultores a venda direta aos consumidores. A certificação é referenciada como garantia de qualidade orgânica e não como certificação orgânica.

Para o grupo “este processo demonstra que as famílias já estavam realizando a transição e quando resolveram se juntar para formar o grupo, somente fortaleceu a certeza de que a produção agroecológica. Além de trazer muita autonomia para as famílias, gera a satisfação em poder ofertar alimentos limpos de contaminação por adubos e venenos agrícolas. E gera uma confiança entre os agricultores e consumidores, além de uma nova relação com a natureza”, como explica Rosiéle.

Organizar a produção, organizar o consumo

Com a chegada da pandemia as famílias tiveram que se reorganizar, no sentido de encontrar novas possibilidades para continuar a comercialização de seus produtos. Neste sentido, o grupo FlorESer Agroecológico, juntamente com o Grupo Agroecológico Guandu – que também possui certificação via OCS – foram convidados a participar, juntamente com um grupo de 25 consumidores, de uma CSA, uma Comunidade que Sustenta a Agricultura.

CSA é uma dinâmica que garante a comercialização de produtos das famílias camponesas com um grupo fixo de consumidores. Este grupo consumidor se compromete, geralmente, por um ano a cobrir o orçamento da produção agrícola. Assim, fica assegurado a venda e também o consumo de uma produção saudável, livre de venenos e da exploração da mão de obra. Além do CSA, o grupo FlorESer Agroecológico também possui venda e entrega direta para muitas famílias, por meio de uma lista de produtos ofertados.

“É uma alternativa concreta, construída pelos camponeses para garantir a sobrevivência da vida na biosfera em termos energéticos, alimentares e ambientais e para a construção do futuro”, finaliza Rosiéle. Experiências como estas são a chave para construir um novo modo de abastecer as cidades sem depender de multinacionais e dar vida digna aos trabalhadores do campo.