No Noroeste do Rio Grande do Sul, Vicente Dutra, a família camponesa e militantes do MPA, seu Ibanez e dona Elizete Gonçalves receberam uma delegação composta por camponeses, indígenas, trabalhadores rurais, representantes da academia e organizações sociais de 13 países para visita de campo nesta quinta-feira, 19 de abril. O grupo que conta ainda com uma representação da FAO e dos governos do Brasil e Equador que estão no Brasil para a Consulta Regional da América Latina e Caribe as Organizações da Sociedade Civil (OSC) referente a Implementação do Artigo 9 do Tratado Internacional sobre os Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e Agricultura (TIRFAA/FAO).
A visita iniciou com um breve relato de como era a unidade camponesas quando a família a adquiriu em 2002. O antigo proprietário colocou a área a venda e avisou aos novos donos que, não valia a pena adquirir a área, porque nada produzia nela, de fato foi preciso vários anos para a recuperação do solo. Hoje a família vive do cultivo da cana-de-açúcar, da produção de hortaliças, frutíferas, bovinos, agrofloresta, além de toda a auto sustentação da família. “Vivemos da Agroecologia”, como diz dona Elizete.
“Nos últimos 5 anos temos trabalhado com o MPA a Produção Agroecológica e a Certificação, já são 7 anos em que não dependemos em nada da Agropecuária, estamos usando os Bios do MPA e a Agroecologia”, explica seu Ibanez que ainda emenda, “na Agroecologia precisa ter paciência”. Durante toda a visita a troca de experiência foi constante, desde os relatos dos visitantes e suas vivencias, até o histórico da família e a decisão de trabalhar e viver da e com a Agroecologia.
“Desde que iniciamos com a Agroecologia, decidimos por produzir com a maior diversidade possível de alimentos, sementes, plantas e animais, não só para o auto sustento, mas também para as outras famílias. Ao contrário do Agronegócio, se eu tenho uma boa variedade de cana-de-açúcar é essa que eu vou dar as outras pessoas”, conta seu Ibanez.
Já encerando a visita, ele relata que, “ser produtor de alimentos orgânicos, agroecológicos, não é só produzir sem veneno é cuidar da água, da mata, da biodiversidade, das pessoas e todos o ecossistema”. Por esta razão que a Agroecologia além de um conjunto de técnicas é em sua essência, um modo de ser e de viver no campo.
Por sua vez, a camponesa e integrante da coordenação nacional do MPA, Debora Varoli, explica o porquê da visita de campo:
– “Além das discussões teóricas políticas é importante que também pudéssemos conhecer as experiências que os camponeses e camponesas tem feito na prática com relação a recuperação e preservação do solo, do meio ambiente, da biodiversidade, da produção de alimentos saudáveis. Daqui vieram os citros, amendoins, bananas, açúcar mascavo e as batatas que consumimos ao longo destes 4 dias da consulta”, conta ela.
Antes da delegação retornar foi realizada uma roda de conversa, regada a garapa de cana, cricri (amendoim torrado e caramelizado com açúcar mascavo), frutas, bolachas e sucos. Margaret Raquel Corrales Badilla da Costa Rica conta, “agora compreendo, por mais que estudamos, não sabemos de tudo é preciso ver no campo, ver na prática”, referindo a visita que a delegação acabara de fazer. Elizete e Ibanez contam que o lugar não tem nenhuma porteira, exatamente para que as pessoas possam vir conhecer a unidade camponesa e suas experiências.
A vista de campo faz parte da primeira Consulta Regional do TIRFAA/FAO realizada entre os dias 17 a 20 de abril, 2018, no Centro Territorial de Cooperação do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) em Seberi, Rio Grande do Sul – Brasil. O evento é organizado pelo Comitê Internacional de Planejamento (CIP) pela Soberania Alimentar por meio de seu Grupo de Trabalho sobre Biodiversidade Agrícola. Ainda este ano, em julho, serão realizadas outras duas consultas regionais, uma na Indonésia (Ásia) e no Mali (África).