Instituto Cultural Padre Josimo e UTE Pampa Sul realizam ações ambientais em escolas e sedes comunitárias

16 de junho de 2023
Por: Marcos Antonio Corbari

Atividades aconteceram em Candiota e Hulha Negra envolvendo alunos, professores e famílias assentadas da reforma agrária

Marcos Antonio Corbari
Brasil de Fato | Candiota (RS)

O Instituto Cultural Padre Josimo (ICPJ) – organização mantenedora da Rede Soberania – realizou uma série de ações simbólicas durante os dias que demarcaram a semana do meio-ambiente, na primeira quinzena de junho. Com forte inserção na região da Campanha gaúcha, os técnicos do ICPJ dedicaram-se durante uma semana ao plantio de árvores, implantação de composteiras, partilha de informação, atividades de formação, rodas de conversa e debates. Os espaços que receberam as atividades foram assentamentos da reforma agrária e escolas do campo localizadas nos municípios de Candiota e Hulha Negra. As atividades foram realizadas conjuntamente com o Programa de Educação Ambiental, mantido pelo ICPJ e pela UTE Pampa Sul.

 

Sementes e composteiras em escolas

Na Escola Municipal Santa Izabel, localizada no assentamento São Miguel, no município de Candiota, a ação que demarcou a semana do meio ambiente foi a construção de uma composteira, que além do seu sentido prático terá uma função pedagógica. Será como sala de aula viva, onde professores e alunos podem comungar do processo de ensino/aprendizado no melhor sentido freireano, se colocando em movimento de transformação do meio a partir da mudança das atitudes individuais de cada um.

Uma composteira escolar como a que foi implementada na escola permite reutilizar os resíduos orgânicos que são gerados diariamente no próprio ambiente escolar. Entre eles resíduos da cozinha e do próprio espaço de jardim e horta. A iniciativa proporciona aproveitamento de material orgânico e formulação de adubo orgânico rico em propriedades, passível de ser utilizado no próprio espaço, contribuindo para melhorar a gestão dos resíduos.

Já na Escola Chico Mendes, localizada no assentamento Santa Elmira, em Hulha Negra, uma das atividades que chamou mais atenção foi relacionada às sementes. Técnicos do ICPJ, professores e alunos dedicaram-se a preparar “bombas de sementes”, que consiste na formação de pequenas “bolas” de barro com sementes acondicionadas em seu interior.

A técnica seedbomb, ou bomba de sementes, é uma prática ancestral que promove o cultivo de plantas pelo arremesso de bolas compostas de argila, substrato vegetal, pó de rocha e sementes. Protegidas dos insetos, dos pássaros, da temperatura e da luz, estas bolas de sementes serão ativadas pela chuva ou pela rega manual. É possível com este método semear centenas de árvores num só dia, com poucos recursos, deixando que a natureza cumpra a sua função.

A professora Cenira Hann agradeceu a participação do ICPJ mais uma vez nas atividades da escola. Ela reafirmou “o princípio fundamental de despertar e estender ainda mais os laços e o interesse dos educandos para o cuidado com o meio ambiente, florescendo um senso de parceria com o ecossistema envolvendo a comunidade escolar e proporcionando um ensino aprendizagem além da sala de aula, tornando o método pedagógico mais interessante e significativo para a tomada de ações  com responsabilidade social e compromisso com a vida”.

Por iniciativa própria a escola ainda introduziu lápis-sementes no material escolar dos alunos. Depois do uso cotidiano, os estudantes poderão “plantar” o objeto, de modo que a semente contida em sua extremidade possa brotar e dar origem a uma árvore.

 

Plantio de árvores

Nas comunidades de Nova União e Palmeiras, também território da reforma agrária, em Hulha Negra, foram plantadas mudas de árvores contando com a participação das famílias assentadas. Acompanhando os técnicos do ICPJ e da cooperativa camponesa Coptil, as famílias assentadas participaram juntas de um momento de forte simbolismo místico, reunindo as mãos para plantar as mudas no espaço que é de uso coletivo.

Além do plantio, a conversa entre os participantes enalteceu a importância da preservação do meio ambiente, assinalando que a questão climática – naquela região a seca foi prolongada e cruel – está amplamente associada a devastação da natureza e a derrubada das florestas. Neste sentido, cada árvore plantada é um ato de resistência.

Rosane Barcé, pedagoga vinculada ao ICPJ, expressou na palavra “gratidão” o seu sentimento após a realização da série de atividades. “Tivemos a oportunidade de fazer na prática um pouco do que entendemos ser preciso para melhorar o mundo, com cada um e cada uma fazendo a sua parte temos certeza de que poderemos deixar um lugar melhor para nossos filhos”, afirmou.

A pedagoga relatou ainda que sentiu-se emocionada por ter tido a oportunidade de plantar mudas de árvores junto com sua filha caçula, a pequena Alana. “É difícil até explicar o que a gente sente, é muita gratidão por ter a oportunidade de plantar uma árvore junto com minha filha e ir explicando para ela a importância do que estávamos fazendo ali.”

 

Cuidar da casa comum

O frade capuchinho Wilson Zanatta, um dos diretores do ICPJ, participou ativamente das atividades e enalteceu de forma especial o papel desta nova geração que vem crescendo nos assentamentos. Destacou que desde muito jovens já têm se mostrado dispostos a assumir o desafio expresso pelo Papa Francisco, de compreender o planeta como a “Casa Comum” e assim cuidar melhor do meio ambiente.

“Celebramos a questão ecológica em nossa região, recordamos e uma maneira celebrativa a integração da criação, reafirmamos a compreensão de que existe uma ligação entre todos os seres vivos pela vivência e pela sobrevivência”, explicou Zanatta. O frade relembrou em sua fala a compreensão da criação do mundo a partir do livro do Gênesis, primeiro tomo da Bíblia, onde a só depois de toda a criação da natureza estar completa, o criador se deteve para dar origem ao homem e à mulher, e legar a eles o cuidado com a Casa Comum.

 

Uma reflexão incômoda, porém necessária

“Nosso planeta encontra-se em um momento de dilema”, afirmou Frei Zanatta, citando uma metáfora comum aos camponeses, onde o planeta é comparado com um boi ou uma vaca. “Este animal estava gordo, sadio, mas foi acometido por parasitas que aos poucos foram consumindo sua força vital. Quanto mais os parasitas comiam, mais cresciam, e desta forma alimentavam-se em prejuízo do animal. Enquanto o hospedeiro emagrecia e adoecia, os parasitas ficavam cada vez mais gordos e viçosos em uma festa de devastação. Por fim o animal não resistiu e faleceu, assim deixando os parasitas também sem alimento e vindo logo em seguida eles também a perecer.”

Em palavras simples Frei Zanatta explicou que nesta parábola popular o animal representa a Casa Comum e os parasitas são a raça humana que está consumido os recursos naturais sem a preocupação em preservar o próprio habitat que lhes dá amparo para a continuidade da vida. “Precisamos mudar nossa atitude individualmente e coletivamente, para que tenhamos futuro enquanto seres humanos neste planeta”, concluiu.