Juremir Machado da Silva é demitido do Correio do Povo
Por: Marcos Corbari
Jornal do grupo Record desliga um dos últimos jornalistas com voz crítica ao Bolsonarismo na casa
Os leitores do jornal Correio do Povo que não coadunam com a visão neoconservadora que vem sendo implementada no jornal desde a aquisição pelo Grupo Record e a Igreja Universal do Reino de Deus, foram surpreendidos na segunda-feira, (04) com a demissão de Juremir Machado da Silva, colunista mais lido no noticioso. Considerado uma das últimas vozes críticas ao Bolsonarismo no CP, Juremir manifestou-se em suas redes sociais afirmando que “o projeto de extrema direita bolsonarista não quer saber de pluralidade”. Sequer pode despedir-se de seus leitores, que o acompanham desde setembro de 2000 no jornal, portanto mais de 21 anos, dos quais em 14 escreveu diariamente. Conforme expressou, vai seguir atuando como professor e pesquisador na PUC-RS e não descarta voltar a utilizar espaço em outros veículos de comunicação no futuro.
Em conversa com o portal Coletiva.net, o jornalista contou que julga sua demissão “como um ato editorial ideológico da direção do jornal”. Durante o dia foram emitidas centenas de manifestações de apoio ao jornalista e professor, bem como críticas severas à postura do jornal e ao grupo de comunicação a que é subsidiário. Juremir relembrou o recente desligamento da rádio Guaíba, emissora também vinculada ao grupo Record e à IURD, bem como diversas ações de censura sofridas em suas ações tanto no rádio quanto no jornal.
“Desde que chegou ao Rio Grande do Sul, o Grupo Record ofereceu apenas entretenimento de baixo nível, fundamentalismo religioso, sensacionalismo e vassalagem ao poder. Quem tenta ser profissional termina sempre da mesma maneira: fora dos veículos do grupo, o que não deixa de ter certa lógica”, expressou o jornalista e pesquisador Luiz Artur Ferrareto, vinculado à UFRGS. “Ao demitir Juremir Machado da Silva, um dos principais jornalistas do Rio Grande do Sul e um dos mais importantes pesquisadores de comunicação do país, a Record sobe a aposta no bolsonarismo delirante, destruindo de vez a credibilidade do jornal Correio do Povo e repetindo ação semelhante realizada em outros dos veículos sob o controle dos bispos da Igreja Universal no estado”, complementa.
Também falando ao Coletiva.net, através de nota, o diretor do Correio do Povo, Sidney Costa, confirmou a demissão de Juremir em nota. A manifestação assinada pelo executivo registra que o jornal passa por uma reestruturação em algumas áreas. No texto, ele ainda escreve que “as mudanças incluem investimentos na integração digital/impresso e ajustes pontuais nos setores de produção de conteúdo em suas diversas plataformas”.
Repercussão:
O vereador de Porto Alegre, Pedro Ruas, qualificou a demissão como “Uma grande perda para os seus leitores e para o jornalismo. Um dos pilares da democracia é ter uma imprensa livre!”. No mesmo sentido se manifestou a deputada federal Maria do Rosário: “Uma imprensa plural é um pressuposto da democracia. Por isso a demissão de Juremir Machado do Correio do Povo nos entristece. Precisamos dessas vozes para fazer fluir o pensamento”.
A deputada estadual Juliana Brizola, afirmando ser leitora diária da coluna de Juremir, afirmou que “perde o Correio do Povo e o jornalismo gaúcho”, manifestando sua solidariedade e afirmando que “vmos atravessar esse período sombrio logo, logo”. Já para Para Salo de Carvalho, Juremir Machado da Silva “é um dos mais qualificados jornalistas do país. Daqueles poucos que ainda realizam análises conjunturais sofisticadas – capacidade desenvolvida ao longo de anos, fruto de profunda pesquisa acadêmica. Sua demissão do Correio do Povo é mais uma expressão de uma era de ódio ao pensamento”.