Lula responde opositores em São Vicente do Sul: “Não tenho tempo para ódio, dá azia”

22 de março de 2018

Ex-presidente e sua caravana ignoram ofensas e agressões de pequeno grupo de manifestantes contrários para ter oportunidade de conversar cara a cara com alunos e alunas do Instituto Federal Farroupilha

 

A educação pública, gratuita e de qualidade tem sido uma das principais bandeiras da Caravana de Lula pelo Brasil, assim como foi uma prioridade nos 13 anos de governos petistas comandados por ele ou pela presidenta legítima, Dilma Roussef. Nesta quarta-feira, 21, depois de deixar Santa mAria, onde participou de reunião realizado na Universidade Federal e de ato público na maior ocupação urbana da América Latina, seguiu em direção à São Borja, deixando a região central e partindo para o extremo oeste do estado. No caminho, porém, uma parada especial foi inserida no roteiro, para visitar o Instituto Federal implantado em seu governo no pequeno município de São Vicente do Sul. Com pouco mais de 8 mil habitantes, São Vicente recebeu a implantação de um dos 11 campi do Instituto Federal Farroupilha, que em sua totalidade atende a mais de 11 mil alunos.

Alertado de que milicianos adeptos do extremo conservadorismo e praticantes de atos facistas estavam postados nas imediações do local, Lula foi enfático: “Não tivemos medo de combater a ditadura, agora acham que vamos ter medo de cara feia? Eu vou ir lá sim, eu quero visitar e ver essa unidade do instituto, eu quero conversar com os alunos e professores olhando no olho de cada um”. E novamente Lula estava certo, pois se havia pouco mais de 50 pessoas fazendo barulho do lado de fora e intimidando a comunidade local e escolares com palavrões e discursos repletos de ódio e preconceito, dentro do Instituto centenas de estudantes e professores lotavam as instalações do auditório da casa para ouvir os pronunciamentos da reitora Carla Jardim, da presidenta legítima Dilma Roussef e do ex-presidente Lula. No ato, os dois ex-presidentes receberam da reitora e de diretores da instituição moções de agradecimento e reconhecimento público, assinadas em nome da instituição e da comunidade local.

 

 

Profundamente identificado com o tema, Lula relembrou que teve oportunidade de estudar poucos anos, depois recebendo formação complementar de curso profissionalizante para atuar como torneiro mecânico, sendo muitas vezes ironizado pelos adversários por ser o único presidente na história do Brasil que não detinha diploma de curso superior. “Hoje é um orgulho tão grande para mim chegar aqui e dizer para vocês que eu sou o presidente que mais tem títulos de doutor honoris causa e que os nossos governos são responsáveis por um número maior abertura de novas universidades, novos campis universitários avançados e novos institutos federais em 13 anos do que nossos adversários foram capazes de fazer em um século”, explicou. Para ele o setor da Educação é diretamente responsável pela melhoria da qualidade de vida do povo e pelo desenvolvimento do país, por isso proibiu que a gestão do Ministério da Educação em seus governos denominasse os recursos repassados ao setor como “gastos” e sim foram sempre considerados “investimentos”. A inserção dos filhos do trabalhador e da trabalhadora mais humildes dentro da formação profissionalizante e do ensino público superior foram citados como um dos maiores orgulhos pelo petista.

Entre outros assuntos tratados pelo ex-presidente no Instituto Federal Farroupilha, manifestou sua contrariedade com a intenção do governo Temer de que até 40% das aulas do Ensino Médio sejam ministradas na modalidade Ensino à Distância (EAD), o que, para ele, significa mias um passo para a privatização do ensino. A resposta ao cenário atual veio em forma de uma proposta ousada: “Quero dizer que, se nós voltarmos, vamos federalizar o Ensino Médio nesse país”. E emendou: “Nenhum país do mundo pode se desenvolver sem investimento em educação, que é o investimento mais barato e mais promissor, porque ele nunca se perde. Com a educação, o país tem mais capacidade de se desenvolver”, disse. Sobre a questão de gastos, questionou que “quanto custou ao Brasil não fazer as coisas certas na hora certa”.

 

 

Um alerta foi compartilhado com os estudantes a respeito da derrubada dos direitos trabalhistas: “o mercado de trabalho hoje é precarizado, vocês vão ter que conviver com o trabalho intermitente”. Para Lula, o próximo governo tem o dever histórico de contrapor os retorcessos impostos por Temer e seus representantes na câmara e senado e realizar um referendo revogatório ou até mesmo uma nova constituinte para derrubar as anti-reformas feitas pelo governo atual. Voltou a afirmar que “não há exemplo na história da humanidade de um país que tenha se desenvolvido sem antes investir na educação. A educação nos dá competitividade em preços no mercado exterior, nos dá a possibilidade de deixar de ser exportador apenas de matéria-prima para sermos exportadores de conhecimento e inteligência”, concluiu.

Sobre os críticos, em especial aos representantes do agronegócio que colocaram tratores às margens das ruas, lula respondeu que “preconceito sempre existiu, mas o que essa gente tem é ódio” e sugeriu que esses agricultores “consultassem a consciência” sobre em que período tiveram maior reconhecimento e ganhos mais consideráveis enquanto setor produtivo, se foi nos 13 anos de governos do Partido dos Trabalhadores, ou se é agora em que representantes do conservadorismo mais retrógrado estão dando as cartas nas instâncias de poder. Fato concreto é que, ao encerrar a atividade e se despedir só alunos e professores, Lula mostrava-se feliz e os participantes da caravana levavam a certeza de que no enfrentamento de narrativas mais uma vez aqueles que se colocam com posturas inclusivas derrotaram os representantes das ideias excludentes.

 

 

Marcos Antonio Corbari | Jornalista

Rede Soberania | Instituto Padre Josimo | MPA

Fotos: Alexandre Garcia

Com informações de Rede Brasil Atual, Brasil de Fato, Sul21 e Lula.com.br