Militante faz texto emocionante relatando a rotina do acampamento e vigília #LulaLivre em Curitiba
Está circulando nos grupos de WhatsApp um texto muito bonito, atribuído à militante Carla Alves, de Belo Horizonte, que se deslocou com uma caravana de seu estado até Curitiba para participar do acampamento e da vigília #LulaLivre. Confira o relato de Carla, apresentando números e impressões que obteve na capital paranaense.
Ela começa relatando os números da sua caravana, que partiu de Belo Horizonte. O grupo, composto por 50 mulheres e 6 homens, com média de idade de 50 anos, foi formado a partir de um grupo de amigas e amigos que foi se comunicando e ampliando informalmente até constituir o número necessário para viabilizar o deslocamento. Tratam-se de profissionais liberais, empresários, estudantes, funcionários públicos, aposentados, donas de casa, unidos pela militância política e pelo ideal de justiça para todos e para LULA.
Em Curitiba, Carla relata ter encontrado o seguinte cenário: 3 Acampamentos montados, 1100 refeições em média por dia, 9 bujões de gás por dia/ 700 reais, 500 kg de comida em doações por dia (média), 5000 pessoas passando pela concentração por dia (média), 1000 pessoas dormindo nos três acampamentos, 150 cartas entregues na barraca por dia (média), Gasolina em Curitiba R$ 4,03.
SEGURANÇA
O MST tem indivíduos responsáveis pela DISCIPLINA – são pessoas que transitam entre os manifestantes, para evitar conflitos entre os moradores locais, contrários ao movimento e pessoas que estão visitando os espaços. A segurança nos acampamentos funciona em sistema de rodízio, em todos os acessos. Foi justamente um desses seguranças que sofreu tentativa de assassinato. “Conversei com o rapaz que estava com ele na hora do ataque e ele contou que os agressores passaram gritando o nome do candidato da extrema direita à Presidência da República e atirando. Deram ao todo 20 tiros, feriram 4 pessoas e quase mataram Jefferson, 39 anos, pai de 3 filhos, um deles em tratamento de leucemia. O ato fascista é o retrato dos dias que estamos vivendo”.
Ela relata que em cada esquina 4 policiais faziam o policiamento das ruas em torno do acampamento e com o grupo mineiro foram cordiais e discretos.
VIZINHANÇA
“Tem de tudo. O bairro é de classe média, mas algumas casas são bem mais simples. Alguns apoiam o movimento, outros rechaçam. Uma família abriu sua casa para uma cozinha comunitária, local para banhos e banheiros. Quinhentas refeições são servidas ali por dia. Conversamos muito com a dona da casa, agradecemos a acolhida em nosso nome e de todos que lutam contra a prisão política de Lula. Na casa dela transitam uma média de 2000 mil pessoas por dia. Voluntários ajudam na cozinha e na distribuição de comida. Ali almoçamos uma comida gostosa e carregada de afeto.” Em outra casa foi montado um ponto de venda de bebidas. Muitos trailers e barraquinhas de comida, venda de camisetas do Lula e bottons foram armadas no entorno. Uma terceira casa transformou-se em Casa da Democracia e lá ficam correspondentes da imprensa alternativa e de todo o mundo. Inclusive da Al Jazeera, que é uma rede de televisão e não um grupo terrorista.
“Um casal de moradores veio ao nosso encontro, no domingo à noite, reclamar que perdeu o sossego e não aguenta mais ouvir o Bom Dia Lula e ter que acordar cedo nos finais de semana. Tive muita empatia por eles. Não deve ser fácil ter todo aquele arsenal montado na porta de casa. A esposa disse que achou que duraria uma semana, mas que agora já não sabia quanto tempo duraria aquilo. Ela estava um pouco alterada, havia bebido, algo normal para um domingo à noite, mas o que se percebia era desespero pelo tamanho do movimento atrapalhando sua rotina. Começou a bater boca com alguém a meu lado e eu entrei na conversa dizendo que sentia muito o transtorno causado a ela, mas que se preparasse porque o movimento ficaria ali até o dia em que Lula sairá solto, nos braços do povo. Que o melhor que ela tinha a fazer era se envolver no movimento e lutar para que ele fosse logo libertado. O marido a puxou delicadamente pelo braço e saíram desconsolados. Mas no geral o que vi foram as famílias em suas casas, tranquilas e um respeito mútuo”.
LIMPEZA
“Fiquei impressionada com a limpeza dos locais por onde passei. Nos acampamentos, voluntários fazem faxinas, tanto nos banheiros e cozinhas improvisadas, quanto nos locais de trânsito. Nosso grupo participou como voluntário da limpeza do Acampamento Marisa Letícia. Não vi papel no chão, latinhas de cerveja, nem copos plásticos. No evento do primeiro de maio sacolas plásticas foram distribuídas e jovens coletavam o lixo jogado no chão”.
ORGANIZAÇÃO
Credenciamento: “Logo que chegamos à Praça Olga Benário o cadastramento é feito e pulseiras com cores diferentes, escrito acampamento Lula Livre, são distribuídas de acordo com o nosso intuito. Quem só vai passar o dia recebe uma cor, quem vai ficar no acampamento outra cor. É por aí que eles fazem o controle de quantas pessoas passaram por cada espaço”. Barraca de doações de mantimentos: “Coleta toda a comida que é recebida e faz a distribuição. Também recebe material de higiene pessoal, fraldas descartáveis, água mineral, material de limpeza, papel higiênico. Os agricultores doam sacos de batata, cebolas, legumes, verduras e frutas que são distribuídos nos acampamentos e colocados na rua para que as pessoas que passam possam se alimentar”. Barraca de doações de dinheiro, roupas e agasalhos: “Recebe e contabiliza tudo que entra em dinheiro. Nosso grupo doou R$ 1.675,00, além de muito mantimento, roupas de cama e banho, agasalho e medicamentos. As doações chegam a todo o momento e vão sendo liberadas à medida que é preciso”. Barraca de cuidados: “Confesso que foi a que mais me emocionou, pois tinha remédios, um médico voluntário, aparelho para tirar a pressão, mas tinha, também, protetor solar, acupunturista e massagista. A prioridade para massagem e acupuntura era para as pessoas que estavam trabalhando no movimento e dormindo no acampamento, por motivos óbvios, mas sobrando vaga todos podiam ser atendidos. Se isso não é amor e solidariedade para com o outro, não sei o que é”. Barraca das Cartas para Lula: “Um livro foi aberto e lá as pessoas mandam mensagens para o presidente. As cartas que chegam fechadas são cuidadosamente abertas por uma equipe que lê o conteúdo e verifica se tem alguma ofensa ao Presidente, algum risco a sua saúde ou outras coisas inapropriadas. Depois tudo é novamente lacrado e entregue a ele pela família. Soube por sua filha que essas cartas tem sido um alento em seu cárcere político”. Barraca palanque: “Lá fica o som e durante todo o dia passam artistas, políticos, lideranças e autoridades nacionais e internacionais. Entre uma fala e outra muita música ao vivo. Muitos cantores famosos têm cantado lá. Os deputados e senadores do campo da esquerda se revezam por semana e meu deputado, Patrus Ananias, está indo essa semana pela terceira vez”. Essas são as barracas oficiais que se juntam a outras que chegam e saem.
APOIO MÚTUO
“Nós levamos de Minas a barraca das bordadeiras do Grupo “Linhas do Horizonte” e elas bordaram política, pedindo a libertação de Lula. Vendemos camisetas e bottons também, para ajudar na passagem daqueles que querem ir a Curitiba e não tem como pagar. Aliás, nosso ônibus levou companheiros que não puderam pagar e o grupo colaborou para que fossem juntos. Temos sempre um ônibus indo e outro voltando, o mesmo acontecendo em todos os Estados do Brasil. Por isso a necessidade de arrecadação de fundos para custear as despesas daqueles que querem ir e não podem pagar, além de manter os estoques nos acampamentos”.
A CIDADE
“Curitiba não é dos coxinhas. Embora se perceba que a maioria é a favor da Lava Jato e admira o Juiz Moro, outros tantos são radicalmente contra. Como estávamos todos de vermelho e facilmente identificáveis, muitas pessoas vinham até a gente conversar, dar suas opiniões e ouvir as nossas. Curitiba esse final de semana estava vermelho. Todos os hotéis com lotação completa. Todos os bares e restaurantes cheios. Ambulantes vendendo de tudo. Lula gerando renda. Os motoristas de Uber, que pegávamos para ir e voltar da Praça Olga Benário, onde fica a polícia federal, foram todos muito delicados e se interessavam em saber porque estávamos ali. Uns do nosso lado, outros defendendo Moro. Triste é que poucos sabiam que o MTST desvendou a fraude do apartamento do Guarujá e provou que a reforma nunca foi feita. Ficavam assustados quando comentávamos sobre isso. Duas senhoras vieram até pedir desculpas pela perseguição que o juiz Moro está fazendo ao Lula. Disseram sentir vergonha por ele ser de Curitiba e que não achássemos que Curitiba é Moro. Quiseram saber qual a visão que temos de Curitiba em tempos de Lava Jato. Adorei! Mas não me iludi, Curitiba ainda é muito Moro e vai demorar para “cair a ficha”. Mas a impressão que fica é a de que é um povo educado. Viam e ouviam o tempo todo a gente gritando LULA LIVRE e não contestavam. Apenas um ou outro passava gritando impropérios dentro dos carros, mas a maioria que se manifestava, buzinava e fazia o L com as mãos, mostrando que estava com a gente”.
SOLIDARIEDADE
“Sempre é o que mais mexe com nossas emoções. Pessoas que deixam a sua vida, largam as suas casas, para ajudar os outros. Os acampados do MST, se revezam, indo e vindo, de tempos em tempos. Uns ficam cinco dia, outros dez e aí são substituídos por outros que chegam. Deixam suas lavouras na mão de familiares e vem para a luta. Um casal com quem conversamos, ambos aposentados, veio do interior para Curitiba de caminhonete e estão desde o início transportando mantimentos e comida pronta de um local para outro. Um dos acampamentos foi armado no jardim de uma senhora, nas imediações da Polícia Federal. Lá estão montadas 30 barracas. Pessoas passam o tempo todo nos oferecendo transporte e insistindo em nos levar solidariamente de um lugar para outro. Um senhor nos deu carona. Éramos sete mulheres apertadas em um fiat e ele orgulhosamente nos contou que desde que o acampamento começou ele vem fazendo isso. Muitos chegam se oferecendo para lavar banheiros, descascar legumes, ajudar no que for preciso. Outros abrem as casas para banhos e banheiros. Alguns chegam com frutas e flores para serem distribuídas. Camisas que identificam países são trocadas entre pessoas. Na barraca de roupas você chega e apenas diz: estou precisando de uma toalha ou um casaco e na hora sai com a peça na mão”.
BOM DIA/BOA NOITE LULA
“É de chorar! Cada dia uma pessoa puxa o bom dia. Nos dois dias que lá estive, de manhã um simples BOM DIA PRESIDENTE LULA repetido dez vezes por umas 2 mil pessoas na segunda-feira e 10 mil na terça, dia 1º de maio. Agora, o BOA NOITE foi ainda mais especial. Em nome dos mais de 40 milhões que saíram da linha da pobreza: Boa Noite Presidente Lula! Em nome dos milhões que você permitiu que chegassem à universidade: Boa Noite Presidente Lula! Em nome de toda a juventude brasileira: Boa Noite Presidente Lula! Em nome das mulheres brasileiras: Boa Noite Presidente Lula! Em nome dos que lutam na agricultura brasileira, dos pequenos agricultores: Boa Noite Presidente Lula! Em nome dos quilombolas brasileiros: Boa Noite Presidente Lula! Em nome dos negros e negras brasileiros: Boa Noite Presidente Lula! Em nome dos que lutam e não acreditam nas mentiras da rede globo: Boa Noite Presidente Lula! Em nome dos que lutam pela educação brasileira: Boa Noite Presidente Lula! Em nome dos que lutam pela democracia e não aceitam a justiça acovardada: Boa Noite Presidente Lula! Em nome dos acampados de Curitiba que tem direito a lutar pela liberdade sem correr risco: Boa Noite Presidente Lula!”
O MUNDO PRESENTE
Cruzamos com gente de todo o mundo prestando solidariedade ao presidente Lula e ao povo brasileiro. Eu vi equatorianos, chilenos, argentinos, franceses, alemães, russos… Disseram-nos que já passaram por lá representantes de 47 países. Fora os que não se identificaram no cadastramento.
O PRIMEIRO DE MAIO
“De manhã mais de 10 mil pessoas foram até a porta da Polícia Federal, dar o bom dia ao Lula. Estava difícil até andar. Pessoas se amontoavam querendo ficar o mais perto possível do cordão de isolamento e a todo momento mais gente chegava. De lá saíram em marcha até o centro de Curitiba para o ato de Primeiro de maio propriamente dito. Lindo ver aquela multidão marchando por 10 km gritando palavras de ordem. Lá já aguardavam outras 40 mil. Os shows foram de Flavio Renegado, Beth Carvalho e Ana Cañas. Pela primeira vez o Primeiro de Maio foi feito em conjunto, com sete centrais sindicais presentes. Cruzamos com caravanas de todos os estados.”
IMPRESSÕES FINAIS
Enfim, foi um fim de semana de muitas emoções e de muita esperança de que o Mundo inteiro veja o Golpe que estamos vivendo no Brasil e que a prisão política de Lula ecoe pelos quatro cantos do Mundo. Foi um primeiro de Maio de resistência. Lindo, Solidário, Emocionante, de muita Luta!