MST celebra 36 anos da ocupação da Fazenda Annoni e inaugura horto em Pontão (RS)
Por: Marcos Corbari
Celebração contou com instalação de busto de Paulo Freire e homenagens a José Alberto Siqueira, o Zecão
Viveiro da Reforma Agrária Popular
O coordenador do viveiro, Marlon Rodrigues Fragas, apresentou o viveiro, destacando a estrutura em seus diversos ângulos de interpretação, desde os aspectos técnicos até os pedagógicos, desde os objetivos concretos até a dimensão política. “Das 100 milhões de árvores que o MST se propõe a plantar e cuidar no Brasil, 7 milhões devem ser aqui no RS e esse viveiro faz parte desse contexto, é uma meta ousada, assim como são ousadas as nossas lutas e as nossas conquistas”, declarou.
O Viveiro da Reforma Agrária Popular Zecão inicia com uma área produtiva de 25 x 10 metros e capacidade de produzir 25 mil mudas por ano. Quando toda a estrutura prevista estiver montada e a área destinada totalmente utilizada, a expectativa do coordenador é que se alcance o número de 100 mil mudas/ano, priorizando espécies nativas da mata atlântica.
“Queremos que este viveiro não produza apenas mudas, mas que seja ‘popular’ no sentido mais prático, que sejam desenvolvidas aqui experiências técnicas e científicas, que consiga envolver a comunidade, os assentados e acampados, principalmente a juventude”, acrescentou Fragas. Ele explicou que ali serão desenvolvidos todos os elementos da cadeia produtiva – iniciando pelo substrato, passando pela coleta e beneficiamento das sementes, até a consolidação das mudas ao ponto de serem introduzidas na natureza.
“Esse viveiro representa a história do MST e a história da luta pela terra neste território, mas também representa o futuro, traz essa esperança de conseguir nos territórios de Reforma Agrária e nos espaços das novas lutas estabelecer modelos de produção sustentáveis, que criem resiliência e prezem principalmente pela agroecologia”, concluiu.
Novo contexto da Reforma Agrária
Cedenir de Oliveira, da direção nacional do MST, destacou a importância do dia – pela comemoração dos 36 anos da ocupação da Fazenda Annoni, pela inauguração do viveiro, pelas homenagens rendidas ao companheiro Zecão, mas também pelo momento de retomada das ações coletivas depois de mais de um ano de recolhimento por causa da pandemia do coronavírus. “Esse projeto vai além da produção de mudas, não está estimulando apenas uma perspectiva de produção técnica, mas sim expressando uma elaboração política e filosófica do que deve ser o novo contexto da luta pela Reforma Agrária neste país”, explicou. Para Oliveira, é necessário alterar as estruturas fundiárias do país, porém só isso não será suficiente, apontando o modelo de produção agrícola atual que não produz comida, ao contrário, produz concentração, miséria e devastação ambiental. “Fazer Reforma Agrária é cuidar do meio ambiente e produzir alimento saudável.”
O deputado estadual Edegar Pretto deu destaque as ações do MST e demais movimentos populares no estado e afirmou de modo particular ao território da Reforma Agrária: “Essas atividades que acontecem aqui em Pontão têm um símbolo muito especial, são ações que recuperam o meio ambiente e preservam as espécies nativas, reforçando a educação ambiental, o auxílio à regeneração da natureza e o incentivo à produção de alimentos saudáveis”. Pretto ressaltou o compromisso dos movimentos em “trabalhar por um país diferente, sem destruição do meio ambiente, sem pessoas passando fome” e arrematou afirmando que cada muda de árvore plantada significa a esperança de um país melhor.
Zecão, um militante completo
José Alberto Siqueira, o Zecão, personagem cujo nome foi designado ao viveiro recém inaugurado, foi enaltecido pelos presentes e muitas memórias relembradas. Sua militância comprometida com a classe trabalhadora, junto aos partidos PCdoB e PT, bem como o protagonismo na construção de movimentos como o MST e o MPA, como na organização do movimento sindical e da Comissão Pastoral da Terra na região, foram fatos citados nos pronunciamentos. “O companheiro Zecão foi um exemplo de militante e dirigente político, mas, acima de tudo, um ser humano extraordinário”, citou Frei Sérgio Görgen.
Os deputados federais Marcon e Bohn Gass seguiram no mesmo sentido, enaltecendo a memória e o legado do companheiro homenageado. “Aqui hoje, se o Zecão pudesse falar, ele nos mandaria levar algumas mudas para casa e plantar, nos desafiaria a fazer a nossa parte para contrapor o projeto de morte de Bolsonaro com o projeto de preservação da vida que vem sendo desenvolvido pelo MST e pelos demais trabalhadores e trabalhadoras do Brasil”, citou Marcon. “Zecão é uma referência para todos nós na luta pela Reforma Agrária, é uma memória viva, é um companheiro cuja memória segue presente na nossa luta todos os dias”.
Visivelmente emocionado, falando em nome dos familiares do homenageado, Antonio Marangon definiu Zecão como um militante completo: “Ele não cobrava ao outro que fizesse uma tarefa que ele mesmo não pudesse ou não estivesse disposto a fazer, ele ensinava pelo exemplo, fazia o trabalho miúdo com disciplina, ajudava as pessoas a se organizar, estava lá, sempre junto, na hora da organização, da formação e da ação”. Maragon relembrou ainda que Zecão não aceitava que ninguém tirasse o protagonismo do povo, sabia que se o povo não for o protagonista daquilo que faz ele não vai se libertar nunca.
A luta continua!
Além das mudas compartilhadas com os participantes, um lote de 600 unidades foram separados para dar início a um novo viveiro, que será implantado junto à Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). A semente plantada já começou a dar frutos. Ao final do ato, com força na voz, os presentes enunciaram: “Paulo Freire, Presente! Presente! Presente!” e “Zecão, Presente! Presente! Presente!” E sim, de fato se podia sentir que ambos, de alguma forma, estavam ali presentes em meio àquelas pessoas, nos símbolos de luta, nos livros, nas sementes, nas mudas, nas esperanças.
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Katia Marko