Nova esperança para a Pátria Grande

20 de março de 2018

Lula, Dilma, Mujica e Correa debatem os rumos da América Latina e projetam reconstrução da unidade iniciada outrora

 

Quatro ex-chefes de estado reunidos em uma mesma mesa de debates com um objetivo comum: sonhar e projetar uma nova América Latina.

 

A segunda atividade da Caravana de Lula pelo Brasil era para ser uma conversa entre dois ex-chefes de estado que desenvolveram uma relação de amizade e respeito mútuo ao longo de seus mandatos como presidentes comprometidos com o desenvolvimento e a união da América Latina. Com a adesão de mais duas figuras de vulto no cenário latino, Dilma Roussef (presidenta legítima do Brasil, afastada por golpe parlamentar) e Rafael Correa (ex-presidente do Equador), a conversa ganhou contornos de um manifesto vivo em defesa da américa, carinhosamente chamada de Pátria Grande pelos laços de unidade que atrelam as pautas históricas dos países que a compõem tanto pelo viés de uma necessária identidade comum, quanto pelo enfrentamento à influência imperialista que tem articulado a nos últimos anos a derrocada dos governos populares e nacionalistas em detrimento de mandatários subservientes aos interesses neocolonizadores.

 

A conversa entre Lula e Mujica transformou-se em uma aula de cidadania, solidariedade e internacionalismo.

 

Mujica fez um apelo às forças populares que estavam presentes, para que não personalizem em apenas uma figura de referência, mês estejam dispostos a cada um fazer a sua parte na construção de um modelo social mais justo e humano. “Hoje vocês tem Lula e isso é muito bom, mas ele não é eterno e novas lideranças precisam surgir do meio popular, precisamos renovar a militância para continuar o protagonismo desses valorosos companheiros que lutaram até aqui e seguirão lutando até onde suas forças permitirem”, falou o líder uruguaio para a reportagem da Rede Soberania. O contexto de uma identidade que reúna os países latinos em torno de pautas comuns foi relembrado: “Não somos nada se não nos juntarmos na América Latina. Eles nos querem pulverizados e divididos. Nós precisamos entender nossas diferenças e termos políticas comuns”, arrematou o carismático ex-presidente uruguaio.

 

Popularidade de Lula foi comprovada com o carinho do povo que aglomerou-se nas imediações da praça central de Santana do Livramento/Rivera.

 

Rafael Corrêa, ex-presidente equatoriano, também concedeu uma breve entrevista com exclusividade para nossa reportagem, relembrando o escritor Eduardo Galeano e sua famosa citação à utopia, onde descreve que apesar de muitas vezes parecer impossível de ser alcançada, ela tem essa virtude sagrada que é a de nos fazer sempre caminhar. Questionado se está disposto a empreender novas instâncias de luta no âmbito da reconstrução da soberania popular sobre as instâncias de poder no continente latino americano, Corrêa foi enfático ao relembrar outra citação famosa, desta vez de Bertold Brecht: “Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis”. Para Correa, porém, todos devemos nos desafiar a lutar todos os dias, para alcançar o norte da utopia, para reconstruir a soberania popular, para fazer justiça à nossa pátria grande.

 

Atividades da Caravana de Lula pelo Brasil no seu primeiro dia no RS superaram as expectativas dos organizadores.

 

Dilma Roussef citou o golpe parlamentar que sofreu em 2016 como o passo inicial de um golpe que foi sendo desenvolvido e continuado em diversas instâncias no Brasil, partindo do campo político e chegando ao meio judiciário. Para ela, o exercício de lawfere que está sendo executado sobre o presidente Lula é um ato criminoso que visa atender esse segmento conservador e extremista que ganhou visibilidade a partir do evento do impeachment, a que ela denominou como “direita facista”. Dilma foi requisita inúmeras vezes por populares para tirar selfies e foi saudada por palavras de ordem que vem sendo repetidas em atos públicos desde que retomou as atividades públicas.

 

Obelisco que demarca a divisa entre Santana do Livramento (Brasil) e Rivera (Uruguai) foi tomado por admiradores de Lula e Mujica.

 

Lula, por fim, exerceu com desenvoltura e descontração a função de mestre-de-cerimonias no ato, dialogando com os outros três interlocutores e em diversos momentos instigando o público a reações calorosas e demonstrações de carinho. Apesar do clima animado, também não fugiu aos temas polêmicos e relembrou o risco de ser preso pela condenação proferida por Sérgio Moro e com firmada em segunda instância pelo TRF4. “O meu problema particular não deve atrapalhar a necessidade de resolvermos o problema coletivo de milhões de brasileiros e brasileiras que hoje estão desempregados e passando necessidades”, expressou. “Eu tenho obrigação de provar que estou falando a verdade, mas não é para eles que me condenaram, é para amigos como vocês Pepe e Rafael, e para os milhões de trabalhadores e trabalhadoras que confiam em mim e depositam no nosso projeto a sua expectativa de melhorar de vida, de recuperar direitos, de alcançar novamente as condições de uma vida digna para si e para sua família”, emendou.

 

Mujica, Lula, Dilma e Correa unidos pelo norte utópico de uma América Latina que faça jus à expressão “Pátria Grande”

 

Assim encerrou o primeiro dia de caravana no RS. Na terça-feira, 20, a comitiva de Lula segue para Santa Maria com duas atividades previstas na cidade. Até o final do mês serão cerca de 24 cidades visitadas no RS, SC e PR. Acompanhe pela fanpage da Rede Soberania a cobertura e as transmissões ao vivo das principais atividades da caravana.

 

             Marcos Antonio Corbari | Jornalista

Rede Soberania | Instituto Padre Josimo | MPA

 

Fotos: Alexandre Garcia e Ricardo Stuckert