#ResisteMirabal!
Por: Ir. Michele da Silva – ICM
Por: Ir. Michele da Silva – ICM
Este grito de resistência é o clamor das Mulheres da Ocupação Mirabal, mulheres vítimas de violência doméstica que estão prestes a sofrer mais uma violência com a reintegração de posse do espaço em que vivem.
A Ocupação de Mulheres Mirabal, é fruto da ocupação do prédio histórico, situado na Rua Duque de Caxias nº 380, no centro histórico de Porto Alegre, que pertence aos Irmãos Salesianas. O Movimento de Mulheres Olga Benário realizou a ocupação no dia 25 de novembro de 2016, fazendo memória ao Dia Internacional da Eliminação da Violência contra a Mulher.
Desde o início da ocupação, o local foi um espaço de acolhida a mulheres vítimas de violência e seus filhos, apresentando um projeto alternativo de trabalho mais humanizado e familiar que proporcionasse a liberdade e o empoderamento feminino. A ocupação é dinamizada por coordenadoras voluntárias, em sua maioria, estudantes universitárias que realizam uma organização circular e flexível nas distribuições de tarefas do cotidiano e nas demais atividades da casa.
Em todos os eventos, debates, oficinas e atividades realizadas dentro e fora da ocupação primam-se pela valorização e busca da dignidade da mulher. A sororidade e o resgate do ser feminino perpassam nas falas, no espaço físico e na forma como a individualidade de cada uma é respeitada no seu tempo.
A ocupação tornou-se um referencial na cidade de Porto Alegre devido a sua singularidade, mesmo com poucos recursos e sobrevivendo de doações tem exercido um papel social de grande relevância para a sociedade e cumprido o dever que cabe ao Estado, acolher, proteger e encaminhar mulheres vítimas de violência. Com muita criatividade as mulheres encontram diversas formas de sustentabilidade, feiras, brechós, chás beneficente, festivais entre outras atividades, além do trabalho de algumas mulheres da casa.
Mesmo realizando um trabalho tão necessário a nossa sociedade, a ocupação sofre grande pressão desde sua criação, tanto por ser organizada por um movimento de mulheres, como por estar em uma propriedade privada. Nestes quase dois anos, as mulheres seguem resistindo e lutando pelo reconhecimento do seu trabalho e pelo direito a uma casa.
Neste embate nem o Estado, nem as Igrejas ou congregações religiosas têm conseguido tomar uma posição ou realizar algo concreto com relação ao destino dessas mulheres e seus filhos. A Mirabal tem passado por um período crítico de incerteza e insegurança.
Há seis meses foi criado um grupo de trabalho com o intuito de solucionar esta questão, mas até agora nada de concreto aconteceu. Todas as promessas e alternativas ficaram sem retorno. Algumas mulheres deixaram a casa, e outras chegam enviadas pela justiça, cada dia que passa a angustia aumenta, pois, pode ser o último dia da ocupação.
Mesmo em meio a toda esta situação de tensão e “tortura psicológica”, a data de reintegração de posse seria até maio, reuniões, mobilizações e às vezes cansaço. Percebe-se muita motivação mútua, companheirismo e esperança. No olhar de cada companheira existe a certeza de que esta luta não será em vão!
Algumas pessoas têm se unido a esta luta por compartilhar da causa ou mesmo indignação diante do descaso do Estado que não garante o mínimo de dignidade a população. Seja com apoio material, nos eventos ou nas mobilizações em diversos espaços, dando um grande estímulo as mulheres.
A Ocupação de Mulheres Mirabal já enfrentou muitas situações difíceis e se fortaleceu nas alegrias e desafios da caminhada, esse projeto vai resistir porque é formado por mulheres lutadoras que acreditam em uma nova sociedade com relações circulares de poder e igual dignidade entre mulheres e homens.
A luta das mulheres nunca é fácil, mas, seguiremos buscando nossos direitos porque não aceitamos NENHUMA A MENOS!
#RESISTEMIRABAL