Seca no bioma Pampa (artigo de Frei Sergio e Adilson Schuch)
SECA NO BIOMA PAMPA
*Frei Sérgio Antônio Görgen ofm
**Adilson Schuch
Uma estiagem severa afetou a região do Pampa Gaúcho no final de 2017 e inícios de 2018.
A situação dos agricultores é grave. A estiagem foi prolongada, mais de cinco meses, e os prejuízos são enormes.
As perdas nas lavouras são de quase 100% (feijão e milho) nos plantios do período recomendado, faltou água para animais causando problema na alimentação dos bichos com pastagens secas, com perdas enormes na produção de leite, perda de peso dos animais, perdas na produção de fumo e de todas as culturas.
Até árvores morreram, arroios, açudes e sangas secaram. Situação ambiental em estado grave.
Maioria dos municípios da região decretaram Situação de Emergência. As perdas calculadas passam longe de 1 bilhão de reais.
Diante de tamanha calamidade, governos estadual e federal parecem nem existirem. Pouco lhes importa a dor do povo. Nem os sobrevoos demagógicos nas regiões afetadas desta vez existiram. Ausência mesmo, indiferença total.
Os prefeitos, sim, de pires na mão de um lado para o outro conseguindo no máximo algumas cestas básicas que pouco ajudam. As prefeituras não tem como solucionar o problema. Estão em situação financeira difícil e mal conseguem manter suas atividades normais.
Quem há tempo se mexe e se mobiliza são os Movimentos Sociais, de modo especial, o MPA ( Movimento dos Pequenos Agricultores) e o MST ( Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). O trabalho de base está intenso e a mobilização é grande. Uma pauta em debate e muita disposição para a luta.
A pauta já entregue aos supostos governos Estadual e Federal traz as seguintes reivindicações, entre as principais:
1 – Cartão Estiagem de 2 salários mínimos; 2- Anistia das dívidas de custeio e da parcela das dívidas de investimento de 2018; 3- Anistia do pagamento do milho troca-troca; 4 – Crédito Emergencial de R$ 5.000,00 para sementes crioulas, mudas e insumos agroecológicos, com rebate de 80% no pagamento; FEAPPER; 5 – Ração para o gado por 3 meses (milho doado da CONAB); 6 – Construção de 5 mil cisternas na região; 7 – Recursos para as prefeituras recuperarem e manterem as estradas; 8 – Retomada e Ampliação do Programa Camponês (investimento nas famílias) – R$ 15.000,00 por família, rebate de 80%.
Nos últimos dias choveu. Aí parece que tudo passou. É verdade que a recuperação do pasto ajuda na alimentação dos animais. Mas os plantios que se perderam não mais voltam. O leite que não se produziu não mais retorna. O sofrimento humana deixa marcas para sempre. O abandono das ditas autoridades fere profundamente. Os prejuízos provocados levam anos para serem recuperados. E sem apoio governamental, talvez nunca se recuperem totalmente.
Mas a estiagem secou a terra e as plantas, mas não secou a esperança camponesa e a gana de se organizar e lutar.
Por isto, vem aí o Levante Camponês do Bioma Pampa.
*Frei Franciscano, militante do MPA.
**Camponês, residente em Canguçu, militante do MPA.