Seca no bioma Pampa: Movimentos sociais propõe levante camponês na região sul

17 de abril de 2018

 

 

Agricultores camponeses colocam o pé na estrada em protesto contra descaso dos governos com milhares de famílias atingidas pela seca na região sul do RS

 

“Os governos só nos escutam quando a gente vai a luta”, alerta Adilson Schuch, camponês de Canguçu. “Já está na hora de olharem para o nosso povo, não apenas para socorrer nesse momento de dificuldade, mas para ajudar a construir um futuro”, acrescenta Aguinaldo Silveira, de Encruzilhada do Sul. “Vamos à luta, todo mundo precisa ajudar, aí as coisas vão acontecer”, conclama Mário Luis Ribeiro, de Amaral Ferrador. Os três dirigentes do Movimento dos Pequenos Agricultores concordam com uma máxima que tem estado presente na mente dos camponeses e camponesas desde sempre: a chuva só se pode esperar que caia do céu mesmo, para normalizar a água dos reservatórios, devolver a umidade ao solo para que se produzam novos plantios, mas as necessidades dos camponeses e camponesas só serão atendidas pelas instâncias de poder se estes estiverem organizados enquanto classe e dispostos a retomar a visibilidade através da luta de massa.

Tendo essa verdade em mente e a bandeira à mão, homens, mulheres, crianças e idosos de toda a região Sul do estado estão mobilizados e colocam o pé na estrada neste dia 17 de abril para reivindicar ação e atenção por parte do governo Estadual e Federal para com as milhares de famílias que foram atingidas pela estiagem na região do bioma Pampa. A produção foi perdida, a água raleou e em muitos lugares até secou, mas a esperança camponesa se renova neste verdadeiro mutirão de luta. Trata-se de um novo levante, retomando a prática das grandes mobilizações do passado, defendendo ações de socorro imediatas e a retomada do programa camponês como política de estado.

Em recente reunião da coordenação estadual do movimento foi construído um documento que norteia ação da base nessa ação, onde se aponta que a situação é grave, a estiagem é prolongada e os prejuízos são enormes. As perdas nas lavouras são de quase 100% (feijão e milho) nos plantios do período recomendado, falta água para animais, as pastagens estão secas, perdas enormes na produção de leite, perda de peso na pecuária, perdas na produção de fumo, árvores morrendo, açudes secos, sangas e arroios secando, situação ambiental em estado grave, enfim são efeitos notados em todas as culturas. Conforme o MPA, estima-se que os prejuízos contabilizam mais de R$ 1 bilhão levando em conta apenas os mais de 30 municípios que declararam situação de emergência, sendo que são pelo menos 42 municípios atingidos.

 

 

Reivindicações:

O MPA propõe uma pauta unificada para a classe camponesa no que diz respeito ao enfrentamento dos efeitos da seca e a projeção de um sistema de valorização da força de trabalho e da produção executadas pelos pequenos. As reivindicações partem da garantia de Cartão Estiagem de dois salários mínimos para cada família atingida; anistia das dívidas de custeio e da parcela das dívidas de investimento de 2018, no PRONAF; anistia do pagamento do milho troca-troca; liberação de Crédito Emergencial de R$ 5.000,00 para sementes crioulas, mudas e insumos agroecológicos, com rebate de 80% no pagamento, através do FEAPPER; ração para o gado por 3 meses (milho doado da CONAB); liberação de recursos para a construção de 5 mil cisternas na região; abastecimento emergencial de água nas casas; liberação de recursos para as prefeituras recuperarem e manterem as estradas; retomada e ampliação do Programa Camponês (investimento nas famílias) com investimento de R$ 15 mil por família e rebate de 80%, através do FEAPPER.

 

Programa camponês:

O MPA defende a criação de um programa de alcance nacional voltado à produção, industrialização, beneficiamento, armazenagem, distribuição e comercialização de alimentos saudáveis, através da agroecologia e da transição agroecológica, chamado Programa Camponês. Essa é uma proposta de política de estado, estruturante da produção e da vida camponesa, e contém, entre outros, os seguintes elementos: estímulo à cooperação e ao cooperativismo; crédito desbancarizado e desburocratizado; transição agroecológica massiva; assistência técnica e educação camponesa; investimento nas unidades de produção camponesas; processamento e agroindustrialização da produção; beneficiamento de sementes; biofábricas de insumos; armazenagem, logística, distribuição e comercialização.

 

 

Agroecologia:

Um dos maiores entusiastas do Programa Camponês é o dirigente da Via Campesina, Frei Sergio Görgem, que destaca a que nesta iniciativa “as famílias vão ter investimentos nas unidades produtivas para estruturar a produção de alimentos saudáveis com tecnologias agroecológicas”. Tanto a sistematização dos temas e propostas abordados tanto na pauta emergencial da seca no bioma Pampa, quanto no projeto permanente representado pelo Programa Camponês é resultado direto das visitas, reuniões e assembleias que vem sendo realizadas junto à base do MPA em todo o Brasil, através do Mutirão da Esperança Camponesa.

 

 

Chamamento:

Camponeses e camponesas estão prontos a dialogar, mas chegou o momento de retomar as reivindicações colocando o pé na estrada. O ponto de encontro neste 17 de abril, que demarca para os movimentos sociais que integram a Via Campesina o Dia Internacional da Luta Camponesa, é o acesso ao município de Canguçu. De lá está prevista uma marcha pelas rodovias da região. Maiores informações você acompanha durante o dia através das redes do MPA, demais movimentos da Via Campesina e pelos portais de informação progressistas.

 

ATUALIZAÇÃO 11h00:
 
A marcha saiu da cidade de Canguçu e avançou rumo a BR 392, interrompendo a rodovia. Segundo informações que nos chegam da manifestação, existe a tendência de manter o bloqueio durante o dia. Também está acontecendo mobilização camponesa em Candiota, com bloqueio intermitente na rodovia 293, na altura da Vila Operária, onde o congestionamento chegou a 15 km. 
 
 

Marcos Antonio Corbari | Jornalista

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