Seca no RS: produção de carne e leite também está em situação de risco

16 de janeiro de 2020
Por: Marcos Corbari

Queda na produção leiteira já alcança 1 milhão de litros e percentual de quebra se aproxima dos 10%, produção voltada a carne também é atingida pelos efeitos da estiagem

 

Pasto está definhando e não há sinais de rebrota, animais sofrem com fome e sede.

Segue o calvário dos camponeses e camponesas do RS nas regiões castigadas pela estiagem que vem se estendendo desde novembro e – pelas estimativas da força tarefa que vem levantando dados e estudando perspectivas – só deve normalizar em final de fevereiro. O Movimento dos Pequenos Agricultores emitiu alerta para a situação acerca de uma semana e vem mobilizando lideranças em suas regionais para monitorar os estragos e consequência. As informações reunidas já abordaram a cultura do Milho (matéria disponível aqui), o feijão e os hortifrutigranjeiros (matéria disponível aqui), bem como os reflexos no cenário econômico nacional (artigo opinativo disponível aqui), chegando hoje ao segmento animal, com foco na carne e no leite.

– Cada dia que passa sem que se tomem por parte do Estado e da União as posturas necessárias a propor alternativas de sobrevivência, subsistência e manutenção, sobretudo para os camponeses e camponesas, se avança em um cenário de desespero, cada vez mais claro que aquele que mais vai sofrer é o pobre, o pequeno, aquele que está constantemente sujeito ao fantasma da fome”, aponta Frei }Sergio Görgen, dirigente do movimento.

O Sindilat (Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul) emitiu uma estimativa de perda média de 8%, o que já representa um volume de 1 milhão de litros de leite que deixou de ser entregue à indústria. Mas é preciso compreender que essa informação não relata toda a verdade: o segmento está exposto – assim como os demais – às diferenças regionais que apontam para situação agravada em determinadas regiões, como em Soledade, por exemplo, onde pelos cálculos da Defesa Civil, houve queda de 30% da produção do alimento. Este município, a exemplo de outros 42 até o dia 14/01/20 já está com decreto de estado de emergência em vigência.

– O leite vinha amargando preços baixos desde 2017 por conta da importação indiscriminada aberta por Temer e que continua ainda hoje, só vindo a reduzir o volume por conta da alta do dólar -, explica Émerson Capelesso, dirigente do Movimento dos Trabalhadores rurais Sem-Terra (MST) e diretor de cooperativa leiteira no município de Hulha Negra. “O consumo nacional caiu, o preço ao pequeno produtor está muito baixo, ainda há a questão das normativas rígidas impostas sem o devido apoio, o que significou exclusão de produtores”, enumera Capelesso, citando fatores que há tempos vem prejudicando a produção de leite praticada pelos pequenos, que agora devido à seca ficam ainda mais expostos e sem capacidade de ação.

Carne

Pequenos Agricultores da região Sul, que dedicam-se à produção de gado de corte em pequena escala voltada para consumo próprio e abastecimento do mercado local também estão sendo duramente atingidos.

– As pastagens de verão e o pasto nativo secou entre novembro e dezembro – explica o produtor Leandro Noronha de Freitas, o Ganso, de Encruzilhada do Sul, que faz parte da coordenação estadual do MPA. Segundo ele, o pasto plantado morreu e o pasto nativo ainda não está dando sinais de rebrota. “Perdemos o primeiro ciclo de renda, que tradicionalmente beneficia o pequeno, que é o período anterior às festas de fim de ano, quando os animais já estavam expostos a uma situação difícil e não ganharam peso ideal para o abate”, desabafa. A produção de carne familiar ficou praticamente inviabilizada e os pequenos produtores estão lutando para não perder os animais.

O gado comeu a reserva que o produtor costuma guardar para o inverno e, agora olhando para o futuro próximo, o produtor questiona com o que vai alimentar sua criação quando o frio chegar. “Vamos acabar perdendo também o segundo ciclo de renda, porque o gado não vai engordar contando só com a pastagem nativa, até a possibilidade de fazer um plantio de milho para silagem está comprometida porque agora entra no risco de ali na frente ficar exposta à geada”, acrescenta.

Milho foi tão prejudicado que não vai servir para ração nem para silagem.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Governo

Enquanto os pequenos sofrem diariamente com os efeitos da estiagem prolongada, vendo vez ou outra uma precipitação de chuva acontecer em pontos isolados – o que fundamenta a ideia da “seca verde”, pois dá a falsa impressão de recuperação para quem olha de fora – não se observa medidas práticas da parte dos governos Estadual e Federal. Diariamente aumenta o número de municípios em Estado de Emergência por conta das perdas na agricultura e pecuária, mas da parte dos governantes até o momento só se ouviu falar em reuniões e intensões e quase nada de medidas práticas para amenizar as perdas daqueles e daquelas que estão com sua atividade econômica e com a própria subsistência ameaçadas ou comprometidas.

Uma das consequências desta situação e da falta de ação dos governos é que o preço da carne vai continuar alto e o preço do leite vai subir para o consumidor final sem que necessariamente seja uma saída para o produtor, piorando a vida de quem vive na cidade. Nesta quarta-feira, 15/01/20, o número de municípios que declararam situação de emergência subiu para 50, contudo estão encontrando bastante resistência em ter a condição homologada pelo governo estadual.