Um presidente que se orgulha de caminhar entre os camponeses

27 de março de 2018

Em SC, Lula visita a Oestebio, cooperativa administrada pela base do MPA e que se dedica a preservação e multiplicação das sementes crioulas e varietais

No oeste catarinense a passagem da Caravana de Lula pelo Brasil foi repleta de simbolismos importantes, tanto no que se refere ao reencontro com iniciativas públicas desenvolvidas ou fortalecidas em seus governos, quanto no aspecto da luta popular pelas soberanias alimentar e genética representadas tanto na viabilização da produção agroecológica quanto na preservação e multiplicação de sementes crioulas e varietais. No dia 25 de março, depois de superar barreiras impostas por milícias de extrema direita, a caravana estacionou no Km 76 da BR 163, em São Miguel D’Oeste. Ali, localizadas em terrenos lado a lado, estão as cooperativas Cooperoeste (administrada por famílias da base do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST) e Oestebio (administrada por famílias da base do Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA).

O roteiro previa apenas o ato público voltado à Reforma Agrária e à Agricultura Camponesa, mas o presidente Lula e sua delegação fizeram questão de ir além, visitando os dois empreendimentos e conhecendo em detalhes sua história, métodos de gestão, funcionamento, potencialidades e dificuldades. A primeira é responsável direta pela inserção social de milhares de pequenos produtores, principalmente assentados da reforma agrária, que através da cadeia produtiva do leite alcançaram um salto positivo em sua qualidade de vida. A segunda, tem como objetivo principal a produção de sementes, elo simbólico que além de significar o fomento primordial à produção, representa o elo permanente do camponês com a terra onde toda cultura se desenvolve.

Na Oestebio, acompanhado por integrantes do MPA, Lula passou por todos os setores da cadeia produtiva das sementes, desde a recepção, beneficiamento, tratamento e industrialização, até a embalagem, armazenagem e expedição. “Tivemos a oportunidade de falar ao presidente Lula como foi importante o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e dentro desse programa a modalidade ‘sementes’ que ajudou a viabilizar muitas ações para nossa cooperativa”, destacou Charles Reginatto, dirigente do MPA em SC e membro da coordenação nacional do movimento, explicando ainda que uma política pública que fomenta o empreendimentos como a Oestebio e a Cooperoeste resulta em desenvolvimento local e regional. Os empreendimentos coletivos conduzem a inserção de segmentos comunitários inteiros em cadeias produtivas na origem do processo e na outra ponta viabilizam seguridade alimentar para milhares de famílias, escolas, casas de saúde e todo tipo de organizações que acaba tendo acesso a alimento de qualidade.

Na visita, Lula ficou sabendo que três mil pequenos agricultores entregam sementes para a cooperativa e que no auge do PAA, mais de 100 mil famílias receberam sementes da unidade de São Miguel do Oeste. “Quando a gente vê cooperativas como essas funcionando como estão, a gente acredita que dá para criar outras, mas tem que nascer debaixo pra cima. Podem contar comigo pra ajudar”, afirmou Lula ao final da visita, levando consigo uma saca de sementes de milho crioulo presenteada pelos camponeses. “Vou levar até alguns amigos e plantar, todos temos o dever de ajudar a multiplicar experiências como essa”, afirmou o ex-presidente, sentindo-se muito à vontade entre os populares que o rodeavam em busca de um abraço, de uma foto, mas principalmente das suas palavras de incentivo.

Reginatto relembrou que a pauta das sementes é resgatada pelo MPA desde 1995, como uma ação de resistência, sendo que a constituição da Oestebio surgiu como uma proposta de viabilizar uma unidade de produção nesse contexto. “Nossa expectativa e objetivos estavam traçados em massificar a produção de sementes crioulas e varietais em parceria com as empresas públicas, de forma que nossa cooperativa assumia o papel de produtora e mantenedora das sementes e assim conseguimos colocar nossa produção à disposição do Brasil inteiro”, relembrou. O dirigente relatou ainda para Lula a importância para aconstrução desse case de sucesso de programas desenvolvidos inicialmente pela Secretaria de Desenvolvimento Territorial e posteriomente pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), que representaram uma verdadeira transformação positiva para a produção e o acesso ao alimento, estabelecendo um canal entre o camponês que produz e o consumidor final que acessa a produção. “Falamos ao presidente Lula sobre nosso projeto de expansão, que já havia sido apresentado ao BNDES e já contava com pareceres favoráveis e com manifestações do MDA reconhecendo o interesse público da nossa experiência”, relatou, reforçando a expectativa de retomar esse projeto a partir da consolidação de um novo governo popular.

– Infelizmente, de alguns anos para cá os recursos foram diminuindo e o recente corte nos programas sociais está conduzindo nossas cooperativas a momentos mais difíceis”, lamentou ao comparar o interesse público representado nas gestões petistas e o descaso completo a que o camponês está sujeito sob a administração do atual governo federal. No caso do PAA, os cooperados informaram que o valor destinado à região foi de R$ 500 mil no último ano, sendo que na safra 2012/2013 o montante chegou a 14 milhões de reais.

– Tem muita coisa para ser feita neste país, mas eu vou falar com clareza: só vai ser possível se a gente revogar tudo o que está sendo desmontado por esse governo. Por isso é importante fazer uma conscientização de que é preciso votar em deputados comprometidos com as causas de vocês.”, alertou Lula. “Depois de ficar oito anos fora eu tenho clareza das coisas que a gente deixou de fazer. Tenho clareza das vezes em que fui enganado por burocratas que travavam as leis que a gente aprovava. Eu quero voltar pra dar uma mexida nisso”, comentou sobre sua intenção de retomar à candidatura à Presidência da República e traçando também uma auto-crítica que aponta para caminhos cada vez mais comprometidos com as necessidades dos pequenos e menos com os interesses dos grandes.

– Foi um momento especial receber o presidente Lula, uma visita muito importante para mostrar a importância que é esse empreendimento da agricultura camponesa, administrado por um movimento social, um projeto já provou que dá certo quando encontra as condições necessárias viabilizadas através das políticas públicas -, disse Reginatto. “Estamos prontos para fazer a nossa parte, auxiliando o fortalecimento e desenvolvimento local e regional, promovendo o fortalecimento do processo da multiplicação, da biodiversidade, do resgate da produção das sementes crioulas e das sementes varietais.

Ao se despedir, Lula reforçou seu compromisso com a agricultura camponesa: “Contem comigo nessa batalha. Nenhuma empresa multinacional vai chupar o sangue de vocês”. E advertiu: “Qualquer governo deveria saber que é muito barato cuidar das pessoas de bem e muito caro cuidar das pessoas que não prestam”.

 

 

Marcos Antonio Corbari | jornalista

Rede Soberania | Instituto Padre Josimo | MPA

Com informações da página www.lula.com.br