14: Soberania do Saber (Saberes Essenciais para a Vida no Campo)
Autor: Frei Sérgio Görgen
Autor: Frei Sérgio Görgen
Este artigo faz parte da série temática “A gente não quer só comida”.
Assista também a reflexão em vídeo sobre este tema, no canal de Frei Sérgio no Youtube.
É condição de cada camponesa e camponês – e da classe camponesa – ter seu próprio modo de pensar e interpretar o mundo. Ter a sabedoria necessária para se desenvolver pessoalmente, enquanto pessoa e enquanto trabalhadora/or, enquanto produtor de bens e serviços, enquanto ser humano que se relaciona com a natureza e dela retira o seu sustento e o sustento da humanidade.
Implica saberes sobre a terra, sobre as águas, sobre o tempo, sobre as plantas, sobre os animais, sobre os ventos, sobre os ciclos da reprodução da vida, sobre as técnicas, sobre a vida, sobre a saúde, sobre a política, sobre o poder, sobre a história, sobre os relacionamentos, sobre religião e espiritualidade, sobre a educação dos filhos, sobre o respeito e a dignidade – enfim, sobre a vida, a produção, a convivência e as estruturas de poder.
Para a vida camponesa não basta um saber “como é” ou “como são” ou “como se formaram” as coisas, a história, a sociedade e o mundo – embora importante, necessário e indispensável. É fundamental saber fazer, saber consertar, saber criar, saber curar, saber cuidar e sabe produzir. Um saber teórico e prático. Um saber que cria autonomia, que gera respeito e dignidade para toda classe, que não aceita qualquer tipo de humilhação por causa de diploma e aparências. É a Soberania do Saber
Para isto são necessários: o resgate, o sentido, a a valorização e a sistematização dos saberes camponeses, a humildade para aprender e o diálogo de saberes. Portanto é necessário também o conhecimento científico e o desenvolvimento tecnológico em diálogo respeitoso e fecundo com os saberes populares.
Para a Soberania do Saber não basta um saber parado no tempo, mas um saber transformador, um saber que faz história, um saber que muda a realidade, a sociedade e o mundo.
Uma Nação só tem Soberania do Saber quando investe pesado na também em educação e pesquisa, em todos os níveis, não elitista e alienada, distante da vida e das necessidades do povo, desprezando e desvalorizando o saber e a cultura de seu próprio povo.
Um dos maiores roubos que as multinacionais praticaram foi expropriar séculos de sabedoria que foram transmitidos de pais para filhos durante gerações, a maioria através da tradição oral e da experiência prática e do exemplo. Muita sabedoria camponesa popular se perdeu para sempre.
É preciso reconquistar este patrimônio perdido e buscar novos conhecimentos possíveis graças a sempre novos avanços do conhecimento humano, com base nos princípios e práticas agroecológicas e das conquistas da ciência e da pesquisa.
O domínio de saberes básicos e conhecimentos estratégicos são cada vez mais necessários para o desenvolvimento das forças produtivas no campo numa lógica camponesa ecológica para alimentar o mundo, preservar o meio ambiente, proteger a vida do planeta e no planeta e construir um modo saudável e feliz de viver.
Ciência e sabedoria, juntas, a serviço da vida.