Artigo: A quem interessa uma Embrapa sem aderência com as diretrizes do Governo?
Autor: Redação
Autores/as: Alceu Vicari; Altair Toledo Machado; Amaury da Silva dos Santos; Angelo da Silva Lopes; Antônio Luiz Oliveira Heberlê; Apes Roberto Falcão Perera; Diego Pereira Viégas; Dione Melo da Silva; Elias Rodrigues Machado; Ernestino de Souza Gomes Guarino; Evandro Vasconcelos Holanda Junior; Fernando Antônio Macena da Silva; Francisco Cinesio Cacau; Francisco das Chagas Leônidas; Francisco Elias Ribeiro; Gilberto Antonio Peripolli Bevilaqua; Idésio Franke; Ilmarina Campos de Menezes; Irajá Ferreira Antunes; Jair Costa Nachtigal; Jean Kleber de Sousa Silva; Joana Darc Souza Bezerra; João Carlos Costa Gomes; João Roberto Correia; José de Souza Silva; Jose Dias Vianna Filho; José Ernani Schwengber; José Faustini de Oliveira; Leonardo Ferreira Dutra; Lucimar Santiago de Abreu; Maria Clara Guaraldo Notaroberto; Maria Devanir Heberlê; Mário Artemio Urchei; Marcia Izabel Fugisawa Souza; Marco Aurélio Feitosa; Michelliny Pinheiro de Matos Bentes; Milena Olivieri Lisita; Milton Kanashiro; Mirane dos Santos Costa; Neiza Cristina Santos Batista; Paola Cortez; Patricia Goulart Bustamante; Paula Giovanna Ribeiro; Paulo Sarmanho da Costa Lima; Pedro Gama; Reginaldo Alves Paes; Roberto Henrique Mendes Parker; Rosemary Vilaça; RossanaCatie Bueno de Godoy; Sergio Luis Gonçalves Aquino; Suênia Cibeli Ramos de Almeida; Tatiana Deane de Abreu Sá; Tereza Cristina de Oliveira; Terezinha Aparecida Borges Dias; Waldyr Stumpf Jr.; Zaré Augusto Brum Soares
A quem interessa uma Embrapa sem aderência com as diretrizes do Governo? No século XXI, a ultradireita ainda considera a Democracia um obstáculo à transformação das instituições públicas, impedindo a reestruturação das sociedades para que continuem a servir ao mercado global exclusivamente para o lucro, a curto prazo e a qualquer custo. Para isso, cooptaram setores, como o agronegócio expansionista (que exige desmatamento), e capturam instituições públicas, como a Embrapa. Parte do agronegócio foi cooptado para ampliar a exportação de commodities, inclusive na Amazônia, com sistemas de produção intensivos de capital, mecanização, irrigação, transgênicos, agrotóxicos fertilizantes químicos. Para continuar privilegiado pelo Governo Federal, no período 2019 a 2022, o agronegócio financiou massivamente a tentativa de reeleição do então Presidente em 2022. A função social da Embrapa foi reduzida ao mínimo necessário para evitar uma crise de legitimação do papel da instituição. A captura da Embrapa visa excluir a agricultura familiar do acesso a políticas e recursos públicos, assim como reordenar a tecnociência agropecuária pública para servir exclusivamente ao agronegócio de commodities. Para salvar as aparências, as últimas Diretorias iniciaram pseudos processos de reestruturação para fingir que as mudanças têm base na moderna ciência do management. Esses processos têm como características comuns a indigência epistêmica de sua concepção, o autoritarismo de sua implementação e a falta de aderência com a complexidade, diversidade e diferenças territoriais do país.
Transforma Embrapa é o nome fantasia do mais recente embuste gerencial inventado pelo último Presidente para o desmantelamento seletivo da capacidade institucional e a privatização indireta da atividade de pesquisa.
Hoje, isso pode piorar. O Presidente Lula configurou seus Ministérios de tal forma que a matriz institucional federal entrasse em sintonia com as Diretrizes de seu Governo, como agricultura familiar, agrobiodiversidade, soberania alimentar e combate a fome. Como a nomeação da nova Diretoria não ocorreu logo depois da posse do Ministro do MAPA, a ultradireita incrustada na instituição articulou-se com o CONSAD para inviabilizar a nomeação dos candidatos a Diretores, visando a manutenção do status quo na tecnociência agropecuária pública. Estão tentando manipular a seleção dos candidatos e mobilizar porta-vozes do agronegócio para legitimarem o serviço sujo do CONSAD, como o fez Xico Graziano e a Deputada Federal Adriana Ventura (Partido NOVO) que se manifestaram endossando um texto apócrifo, panfletário e criminoso. Usando fakenews e com ranço machista, o documento tenta desqualificar, difamar e destruir reputações de candidatos a Diretores por estarem alinhados às Diretrizes do Governo.
Bolsonaristas na Embrapa e no CONSAD temem a nova Diretoria. Pela primeira vez, a Presidência da instituição é ocupada por uma Pesquisadora, e duas mulheres mais são candidatas a Diretoras. O currículo de quaisquer deles supera os currículos dos Diretores, que atuaram como donos da Embrapa transformando-a num balcão de negócios, mercantilizando resultados de pesquisa. Traindo a dimensão tecnocientífica da instituição, essa Diretoria cortou radicalmente os recursos para PD&I. Em 2018, foram aplicados R$ 88 milhões; em 2019, R$ 83; em 2020, R$ 32; em 2021, R$ 54; em 2022, R$14 milhões. Em comparação com os governos Lula e Dilma, percebe-se a redução acentuada nos recursos de pesquisa da Embrapa. O montante de 2022 representa menos de 18% do valor aplicado em 2012, por exemplo. Contrário às Diretrizes do Governo, o CONSAD reduziu a seleção dos candidatos a uma prática de assédio moral, comum modus operandi análogo ao de um Tribunal de Exceção para controlar o resultado do processo; já deveria ter sido substituído. Do contrário, a sociedade perderá as contribuições da mais qualificada instituição científica pública do mundo agrícola tropical. Uma instituição que deve trabalhar de forma plural, para todos os segmentos da Agricultura e da Sociedade Brasileira. Será que o Presidente, o Ministro da Justiça e o Ministro do STF sabem que o 08/01/23 ainda não acabou? Recém bateu à porta da Embrapa e ameaça mantê-la sem aderência às diretrizes do Governo. A quem interessa abortar a reconstrução de uma pesquisa agropecuária pública, democrática e inclusiva, para apoiar o Presidente Lula no resgate do Brasil?
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial Rede Soberania.