Artigo | Hopper e Dorothea, imagens de um mundo em confinamento
Autor: Cristóvão Feil
Cristóvão Feil
Sociólogo
O pintor estadunidense Edward Hopper (1882-1967) foi quem soube colher no traço, na cor e na iluminação, com as quais compõem as suas obras, a forma humana da solidão, da incomunicabilidade, e do silêncio ao redor. Hopper pinta um mundo em permanente quarentena, isolamento e confinamento. Hoje, nós sabemos o que isso significa.
As figuras humanas de Hopper parece que sofrem um mal-estar suave, mas definitivo, irrecorrível e infinito.
Ele brigou com os vanguardistas da pintura abstrata como Jackson Pollock (1912-1956), por exemplo, porque via nesta expressão artística uma forma de esconder a opressão humana de nosso tempo. Para Hopper, abstrato é o sentimento (a solidão, por exemplo), e não a sua arte pictórica.
O tratamento que Hopper dá à luz é belo, único e intrigante, ele consegue imagens que quase sugerem o final dos tempos, a luz que precede a hecatombe, a luz que antecede ao cessar definitivo do sol. Arrisco a afirmar que Hopper é um pintor escatológico.
Já a fotografia da grande Dorothea Langer (1895-1965), com outra forma de expressão artística, vai também na mesma direção, agora estimulada pela Grande Depressão da década de 1930, nos Estados Unidos. A inspiração é a mesma, mas com linguagens técnicas distintas.