Eles não entendem que mesmo regredindo não é possível voltar


Frantz Fanon em seus estudos procurou entender profundamente, a partir de sua vivência entre o oprimido povo argelino, os efeitos opressivos que atingem as comunidades colonizadas e os países de terceiro mundo exercido pela cultura dominante, seja no campo, político, cultural ou psíquico. Segundo Fanon – à guisa de seu tempo – os países capitalistas interpõem entre a massa explorada e o poder real, uma massa de professores, conselheiros, “desorientadores”, intermediários responsáveis por através da linguagem domesticar os cérebros dos oprimidos ao passo que nos países colonizados o intermediário personifica-se na figura do soldado e do policial que com sua presença e interferência direta aconselha o explorado com coronhadas e gás lacrimogênio.

A nau dos insensatos no seu afã chauvinista tenta aproveitar-se da crise de identidade secular do país, que até hoje não consegue entender-se como nação soberana. A elite brasileira vive um complexo de peão, sem identidade nacional, prefere os desmandos de um patrão estrangeiro. Tal complexo nos legou um país com características herdadas de 500 anos de colonialismo e uma independência fantasiosa, onde sucumbiu a dominação imperialista inglesa e se perenizou a estadunidense. Por aqui o intermédio entre o poder e a massa explorada sempre teve mais cassetete do que caneta, apesar de os dois complementarem-se, sobretudo após o breve período em que os coturnos se recolheram a caserna e o cassetete reinou sozinho nas favelas brasileiras.

Os anos que alteraram o ambiente universitário também deixaram um legado, milhares de jovens que saíram da universidade nos últimos anos hoje exercem o trabalho docente em escolas públicas e privadas. Fato que alterou significativamente o quadro funcional da educação brasileira, as classes populares hoje possuem muito mais representantes nas salas de aula do que quando o coturno voltou a caserna, e a grande maioria destes não estão dispostos a cumprir desacatos contra seus semelhantes. Ao contrário do soldado e do policial que têm sua formação técnica e política exercida nos bancos das academias militares, o docente é um sujeito contestador, já não pode ser considerado mero intermediário entre o poder e o povo.

O que eles não conseguem compreender é que na regressão secular a que estão imbuídos de mergulhar o país, nem tudo pode ser feito à força de lei, comunicados e decretos, quanto mais por e-mail. Há novos valores morais, éticos, culturais e de liberdade que já estão entranhados na sociedade e não são passíveis de retrocesso. Nem a república de coturnos é capaz de submeter o processo de livre arbítrio a esconder-se debaixo de mesa, assim como é praticamente impossível que um ministro da educação consiga impor uma regra de personalidade narcisista a todo o corpo docente nacional.

 

Maister F. da Silva

Militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA)