Leonardo Sakamoto: "Discordo do general: Olvo está muito mais para Rasputin do que para Trótski"


Confira o texto publicado por Leonardo Sakamoto em seu blog (publicação original disponível AQUI!) repercutindo o mais recente capítulo da briga de novela protagonizada pelo astrólogo Olavo de Carvalho e seus seguidores e a ala militar do desgoverno Bolsonaro. Sakamoto tem razão: Olavo está muito mais para Rasputin do que para Trótski.

 

Rasputin, o obscuro “guru” dos czares.

 

Logo após o ex-comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, responder a mais uma leva de ataques de Olavo de Carvalho às Forças Armadas, chamando o polemista de “Trótski de direita”, o nome do intelectual que foi um dos mais importantes líderes da Revolução Russa, em 1917, deu um salto nas buscas do Google. Não tanto quanto “golden shower” no Carnaval, mas o suficiente para mostrar que o pessoal, em dúvida sobre quem era o tal sujeito, foi atrás.

Confira o tuite do general:

 

 

Villas Bôas, que hoje é assessor do também general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, prestou inconscientemente um favor educacional ao país. Pois Trótski – ou Trotsky – tem sido uma das figuras usadas para atacar a esquerda em geral, mesmo que os alvos dos ataques não simpatizem com o pensamento do líder comunista. Não ganha de Antonio Gramsci, muito menos de Karl Marx, no quesito “ódio gratuito”, mas é nome presente. Claro que apenas uma ínfima parcela dos que usam Marx, Gramsci ou Trótski como xingamento sabem o que eles pensavam de fato. Ou quem eram eles.

O general pode ter citado Trótski pelo fato dele ter liderado os bolcheviques contra seus antigos aliados, os mencheviques, por ter sido considerado traidor pelos stalinistas ou por sua teoria da “revolução permanente”. O nome casa bem com o comportamento de Olavo, mas o conteúdo não. Grosso modo, para Trótski, a burguesia atual dos países atrasados não consegue realizar revoluções democráticas burguesas, como a Revolução Francesa, e, portanto, é o proletariado quem deve conduzir o processo. Que, em sua opinião, deve ser internacional, pois um novo país socialista não resistiria sozinho ao resto do mundo capitalista.

O resumo acima vai soar ofensivo a quem foi da Libelu (Liberdade e Luta), tendência do movimento estudantil brasileiro de corrente trotskista, que lutou contra a ditadura militar. Mas é o que temos para hoje. Quem quiser saber mais, tem um livro dele com esse mesmo nome – “A Revolução Permanente” – à venda naquele mesmo lugar onde se compra “A Verdade Sufocada” e “50 Tons de Cinza”.

Essa comparação não é pertinente, nem de longe. Mas há outra, daquele mesmo momento histórico, que poderia ter sido feita pelo general: o russo Gregori Rasputin. Com um passado místico, tal como a astrologia de Olavo de Carvalho, ele tornou-se próximo da família do czar Nicolau Romanov II e teve poder político na última corte russa. Teria nomeado ministros e influenciado decisões militares. Era um sujeito bem estranho, para dizer o mínimo. Há quem diga que conselhos ruins que ele deu à imperatriz ajudaram na derrocada do regime.

Bem, qualquer coincidência entre a primeira década do século passado na Rússia e o Brasil de hoje é mera brincadeira de História – para, claro, quem tem paciência de ler textos maiores que um tuíte.

 

Houve aumento na procura pelo termo “Trotski” no Google depois do tuíte do general.