O capitão é um mero boneco de ventríloquo


O ideário iluminista está sendo desafiado pela barbárie, filistinismo e boçalidade. O Brasil está sendo vanguarda deste atraso civilizatório, mas não se encontra isolado nesta corrida maluca rumo ao abismo obscurantista.

A Europa, os EUA e parte da Ásia já experimentam as fórmulas simplórias da extrema direita, todas tão ameaçadoras quanto vazias de projetos. A democracia, mesmo formal e mitigada como a conhecemos, está virando um ideário subversivo e perigoso.

A desmoralização da democracia não é um fenômeno inédito no mundo, basta lembrar da aposta do grande capital na opção nazifascista como saída para a grande crise estrutural de 1929 e parte da década seguinte.

Mesmo nos EUA, a oposição ao governo democrata do presidente Roosevelt, houve uma onda ultradireitista muito forte, tanto que propugnavam – sempre de forma oportunista – pelo “pacifismo” e “neutralidade” em relação à grande guerra que se iniciava na Europa com as primeiras anexações e ocupações hitlerianas violentas a territórios como Áustria, Tchecoslováquia e Polônia.

Roosevelt resolveu apostar no esforço de guerra com dupla intenção: 1) retomar o crescimento econômico do País afundado em grave crise social; 2) conclamar aos empresários pela participação industrial no esforço de guerra através de investimentos governamentais na indústria pesada.

No Brasil atual, não sejamos ingênuos, há uma aparência do real que se apalpa e se vê na mídia e nas redes, mas há também um frenético cenário difuso, que mal se pode deduzir ou constatar.

O capitão é a parte visível do fenômeno, um autêntico boneco de ventríloquo, a parte aparentemente hilária, ridícula, com um leve aroma contestatório ao sistema e à política tradicional.

A parte encoberta e dissimulada é aquela que corresponde aos seus patrões e financiadores (internos e externos). Refiro-me ao Instituto Milenium, uma espécie de partido político não-legal da direita do Brasil, que reúne parte da grande mídia (Globo, Abril, Estadão, etc), banqueiros e setor especulativo, grandes e médios empresários urbanos e rurais com ligações orgânicas articuladas ao agronegócio, indústria de armas/munições, várias igrejas evangélicas (todas politizadas e com militantes no Congresso e no Judiciário).

Esse conjunto quase secreto de conspiradores contra a democracia no Brasil responde por atacado ao interesse da matriz que fica nos EUA. Não é à toa que o grupo de marqueteiros do capitão veio dos Estados Unidos, financiado pelo Estado, hoje sob o comando parcial do plutocrata Donald Trump.

Está em jogo a geopolítica internacional e a formulação não-concluída dos BRICS, sem esquecer o crescente protagonismo da China no plano mundial dos negócios e sobretudo das novas tecnologias. Dois macro-elementos incomodam a plutocracia estadunidense: o óleo do Brasil e a opção diplomática e geopolítica dos anos Lula-Dilma. Isso eles não permitirão jamais que volte a prevalecer e prosperar no contexto das relações internacionais, pelo menos no Hemisfério Sul.

Amanhã, se Fernando Haddad perder o juízo (e o caráter) e declarar amor incondicional ao Império, acreditem, será objeto de mimo e fanfarras da mídia local e certamente irá assegurar a vitória inconteste no segundo turno da presente eleição presidencial.

Mas tranquilizemo-nos, Haddad não irá perder o juízo, nem as eleições. O duro será enfrentar depois um Congresso majoritariamente golpista e um Judiciário como o mais novo militante político do País.

Em 08 de outubro de 2018

 

Cristóvão Feil, sociólogo