O fascismo é a patologia mental que se politizou (flúor na água é invenção dos comunistas)
Autor: Cristóvão Feil
No Brasil, vivemos hoje uma onda regressista que expõe a ignorância e o obscurantismo no qual muitos – ditos letrados – estão enterrados de corpo inteiro. A onda ultra-autoritária vêm se formando há alguns anos, vitaminada que foi pela constante desmoralização da política promovida pelos grandes meios de comunicação.
Outros países já passaram por essa experiência trágica.
Grande parte da Europa, na década de 1930, sucumbiu ao nazifascismo. Isso não ocorreu somente com a Alemanha, a Itália, a Espanha e Portugal, não.
Na Inglaterra mesmo, o movimento de ultradireita foi muito forte e ameaçador, bem como em outros países do velho continente. Em todos estes países, a extrema direita sempre agia com violência e extrema brutalidade contra àqueles que julgavam seus oponentes.
A França de Vichy (1940-44), como ficou conhecida, foi administrada por um governo fantoche dos nazis, ninguém desconhece esse fato histórico lamentável.
Nos Estados Unidos, durante o governo Roosevelt, e mesmo antes, a extrema direita fazia manifestações virulentas contra as políticas sociais de recuperação econômica e social de origem keynesiana. Enquanto isso, o fascista Benito Mussolini era um queridinho da imprensa americana, aparecendo em pelo menos 150 artigos de 1925 a 1932, alguns artigos neutros, mas muitos elogiando o italiano como grande líder de massas.
Seguiu-se a isso, o macartismo persecutório, que vigiu de 1950 até o final da década, com forte conteúdo anticomunista e paranóico.
Já no governo democrata de John Kennedy, nova onda regressista varreu os Estados Unidos, motivado pela presença da nova Cuba revolucionária, pela sua hipotética submissão neocolonial à União Soviética (que não ocorreu), pelo recrudescimento da Guerra Fria diante da fracassada invasão fascista à Baía dos Porcos (1961), e a temerária crise dos mísseis soviéticos em Cuba (1962).
Sem esquecer a perigosa crise de Berlim de 1961, quando quase chegamos à terceira guerra mundial, resultando na construção do famigerado e stalinista Muro de Berlim Oriental.
Os irmãos Kennedy, um, John, na presidência, o outro, Bob, como procurador-geral da República, foram implacáveis com a extrema direita materializada em postos de comando nas Forças Armadas, na CIA, no FBI, no Congresso estadunidense, e sobretudo, na grande mídia (sempre ela).
JFK tinha um fraco controle dos postos estratégicos do aparelho de Estado. [Este filme, nós vimos recentemente no Brasil, mais precisamente no governo Dilma.]
Portanto, não foi sem motivo, ou por razões acidentais, que ambos sucumbiram à eliminação física – JFK, em novembro de 1963, e RFK, em junho de 1968. [No Brasil, a democracia é que sofreu a eliminação física, através do golpe de 2016.]
Assassinatos perpetrados por evidente conspiração composta pela conjugação combinada de interesses que reuniram a CIA, o FBI, os militares beligerantes que apostavam na crescente tensão da Guerra Fria (afinal, foi o direitista general Eisenhower, presidente da República, antecessor de Kennedy, que alertou para o preocupante fortalecimento político daquilo que ele mesmo chamou de “complexo industrial-militar”), e a espectral Máfia (J. Edgar Hoover, o temido ultradireitista chefe do FBI chegou a afirmar à época que “a Máfia não existe”).
O “capo” mafioso Santo Trafficante Junior (acreditem, é nome de pia batismal, mesmo), chefe da região da Flórida, reduto de 90% dos exilados cubanos, igualmente ultradireitistas e ressentidos contra a nova Cuba, é um dos principais suspeitos de ter participado da grande e misteriosa conspiração para eliminar os irmãos K.
Pra vocês terem uma ideia do grau de promiscuidade havido entre o aparelho de Estado e o crime organizado nos EUA. O que comprova que a corrupção não é fenômeno exclusivo dos países da periferia do capitalismo, nem do Hemisfério Sul, habitado por povos não-brancos e não hegemonizados pelo credo original do puritanismo protestante, como dizia Max Weber.
E a relação do flúor dental com os comunistas?
Pode parecer piada, mas a ultradireita dos Estados Unidos (vocalizada pela grande mídia, durante o governo Kennedy), quando da adoção da campanha para fluoretar a água potável distribuída às populações urbanas, espalhou a contra-informação segundo a qual o flúor era invenção da União Soviética com a malévola intenção de “envenenar” o povo dos EUA por inteiro.
Assim, depois que todos estivessem enfraquecidos, gravemente enfermos ou mortos, os comunistas invadiriam o território estadunidense anexando-o, de imediato, como colônia da URSS.
Simples assim. O senso comum tem fobia à complexidade. Quanto mais rasa a mentira, melhor ela é absorvida pela chamada “opinião publicada” – os grandes artífices da ideologia dominante.
Em 23 de outubro, 2018.
Cristóvão Feil
Sociólogo