Selvino Heck*
Paulo Freire vai fazer 100 anos no domingo, 19 de setembro de 2021. Vamos celebrar o centenário do educador popular e intelectual brasileiro mais influente do mundo, Patrono da Educação Brasileira.
No domingo, 19 de setembro, à tarde, e na segunda, dia 20, das 9h às 19h, sob organização do CEAAL, Conselho Latino-americano e Caribenho de Educação Popular e suas entidades filiadas, do qual Paulo Freire foi o primeiro presidente, da CNTE, Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, da RED Estrado, da UFPE, Universidade Federal de Pernambuco, IEAL, Internacional da Educação para a América Latina, do FNPE, Fórum Nacional Popular de Educação, de movimentos sociais e populares, de ONGs da América Latina, Caribe, África e do mundo inteiro, haverá celebrações, memória, reflexões e História no seu sentido mais amplo (Lula, Boff e viúva de Paulo Freire participam de evento do centenário de Paulo Freire, 15.09.2021).
Quando Paulo Freire foi preso em 1964, logo depois do golpe militar, o IPM, Inquérito Policial Militar, instaurado dizia, entre outras coisas, que ele era ‘ignorante e subversivo’. Em 2019, quase 60 anos depois, a direita conservadora brasileira e internacional voltou a dizer que Paulo Freire é ‘ignorante e subversivo’. E quer tirar seu título de Patrono da Educação brasileira. Foi então lançada a Campanha Latino-americana e Caribenha em Defesa do Legado de Paulo Freire. Defender Paulo Freire é defender uma educação pública, de qualidade, conscientizadora e libertadora, é defender a democracia, é defender os direitos dos mais pobres entre os pobres.
Nos seus 100 anos, é mais que hora de juntar a Pedagogia da-o Oprimida-o, a conscientização e a libertação, com a Pedagogia da Indignação, a justa raiva, com a Pedagogia da Esperança, esperançar, nestes tempos de governos genocidas, de ódio e intolerância, de violência contra as mulheres, o povo negro, os jovens, o povo LGBTQIA+, em especial. E lutar por igualdade, justiça, soberania, democracia, como Paulo Freire fez a vida inteira, ao lado dos pobres, das excluídas e excluídos, das trabalhadoras e dos trabalhadores. Porque a partir deles vai tornar-se realidade sua frase ‘mudar é difícil, mas é possível’.
É hora de superar e reinventar Paulo Freire, como ele sempre dizia e esperava que educadoras e educadores populares fizessem, e não apenas lê-lo e repeti-lo.
É hora de marchar com Paulo Freire, como ele sempre fez no mundo inteiro com as oprimidas e os oprimidos, fazer formação na ação nas bases populares, nas periferias, nos Comitês Populares contra a Fome. Como ele disse na famosa entrevista ao Pasquim, em 1978: “Eu me acho professor numa esquina de rua. (…) Não me interessa passar um ano estudando um livro, mas um ano estudando uma prática diretamente.” Hora. Pois, de ir para as ruas com o povo, gritar por liberdade, fazer da práxis um processo revolucionário, construir o inédito viável, com denúncia, anúncio, profecia, sonho e utopia.
E aí vai meu poema, escrito e declamado na abertura das celebrações no início de setembro: FREIREANAMENTE, EM SETEMBRO DE 2021.
“Não estás sozinha, sozinho./ Não estais sozinhas, sozinhos./ É pôr o olhar em volta,/ é abrir o ouvido em 2021,/ como se Paulo Freire estivesse de braço dado,/ abraçado contigo,/ abraçado conosco.
Você está viva, você está vivo./ Nós todas estamos vivas./ Nós todos estamos vivos./ Vivíssimas, vivíssimos./ Ninguém solta a mão de ninguém.
Paulo Freire andarilha com a gente./ Marcha ao nosso lado, ombro a ombro, mãos dadas,/ como marchou com os sem terra e os sem teto,/ chorou o assassinato do pataxó Galdino,/ e sempre abraçou os mais pobres entre os pobres,/ as trabalhadoras e os trabalhadores do mundo.
Ele nos acompanha passo a passo,/ prática e reflexão,/ educação como prática da liberdade,/ teoria e ação,/ na construção do inédito viável,/ no sonho da Terra Prometida:/ com a pedagogia libertadora das oprimidas e dos oprimidos,/ com a pedagogia da indignação,/ com a pedagogia em movimento de cem anos de esperança.
Nós aprendemos juntas e juntos./ Brasileiramente,/ latino-americanamente,/ caribenhamente,/ nós construímos solidariamente as Cirandas,/ as Rodas de Conversa,/ os Círculos de Cultura,/ as Tendas Paulo Freire.
São 100 primaveras de amorosidade,/ diálogo,/ consciência,/ fé,/ boniteza,/ esperançar,/ tijolo a tijolo,/ ecologicamente,/ libertariamente.
Paulo Freire vive!
Ele está no meio de nós.”