01: A Mística da Esperança Camponesa
Autor: Frei Sérgio Görgen
Autor: Frei Sérgio Antônio Görgen
Este artigo faz parte da série temática “A gente não quer só comida”.
Assista também a reflexão em vídeo sobre este tema, no canal de Frei Sérgio no Youtube.
A esperança não é o resultado de uma espera, mas de uma luta. Esperança se constrói.
A desesperança foi uma marca na vida camponesa por muito tempo na história do Brasil. A desgraça ameaçou a vida dos pobres do campo, sem amparo e sem horizontes, por longos anos, anuviando os céus da esperança e ameaçando direitos conquistados e os caminhos do futuro.
Mas a luta camponesa é sempre a fonte de nova esperança. Os Movimentos Camponeses em luta são os alicerces para enfrentar as ameaças e abrir os caminhos.
Nada é dado, tudo é conquistado.
Num mundo onde a natureza e a vida estão ameaçadas em suas raízes, os camponeses e a vida camponesa passam a ter um novo papel civilizatório.
A classe camponesa constituiu-se num sujeito coletivo da humanidade com história, tradição e sabedorias para produzir alimentos saudáveis e limpos, e ao mesmo tempo cuidar e preservar a mãe natureza. E manter, criar, recriar espaços de convivência comunitária humanizadora, alternativa ao caos instalado nas concentrações urbanas desordenadas.
Produzir alimentos com menos máquina, menos químicos e mais trabalho. Também nisto o mundo camponês é horizonte de esperança, numa sociedade em que a tecnologia extingue postos de trabalho. E trabalhar, numa perspectiva humanizada e humanizadora, dá sentido às existências pessoais e coletivas. No mundo camponês, o trabalho tem um sentido ético, é um valor humano.
As razões da esperança estão na crise ambiental e social vivida pela humanidade. Somente os séculos de sabedoria camponesa, indígena e quilombola têm no seu baú reservas de saberes e experiências vitais capazes de responder aos desafios de alimentar a humanidade preservando os recursos naturais e convivendo em ambientes socialmente justos.
A agroecologia camponesa está se firmando como a nova e grande alternativa para produzir alimentos saudáveis, cuidar da natureza, alimentar o mundo e dar trabalho para milhões e milhões de pessoas.
Não é sonho, nem romance, nem lenda. É futuro batendo na porta.
A agroecologia é a nova ponta da tecnologia agrícola e ela só é possível de ser praticada por comunidades camponesas. É impossível a convivência entre agroecologia e latifúndio, agroecologia e monopólios de multinacionais.
Aí reside um dos pilares da esperança camponesa. Ela será necessária para toda a humanidade e não só para os camponeses.
Aí nasce a nova missão camponesa na sociedade. Produzir alimentos limpos e saudáveis. Cuidar e preservar a mãe natureza. Cuidar e preservar a água irmã. Cuidar e tratar bem a terra mãe. Equilibrar o ambiente de todos. Formar e preservar comunidades de convivência saudável. Construir ambientes socialmente justos. Construir famílias sem dominação de gênero nem de gerações.
E esperançar é o novo verbo conjugado e cultivado desde o ventre da terra.
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