Algumas palavras pela juventude camponesa, em defesa do seu direito de lutar sorrindo!


Na última semana (sexta-feira, 27) a juventude do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) esteve reunida em Seberi para mais um ciclo de sua escola de formação. Trabalharam temas relativos à comunicação e debateram pautas inerentes à sua condição enquanto cidadãos e cidadãs. Esse grupo é composto por jovens do campo e da cidade, vindos dos quatro cantos do estado. Desenvolvem um trabalho muito bonito que busca o diálogo entre o ambiente rural e o ambiente urbano, a partir da integração dos trabalhadores.

Preocupados com um tema em especial: a tramitação de um projeto de lei que flexibiliza ainda mais a já suave legislação brasileira que normatiza a utilização de veneno nos cultivos de alimento, propuseram uma intervenção pública, descontraída e pacífica, em frente a uma agência bancária, na praça da cidade vizinha, Frederico Westphalen, que se considera referência regional. Um ato semelhante já foi realizado em janeiro, em Seberi, durante uma festa no interior do município. Fizeram bonito, deixaram sua mensagem, despertaram debate, receberam aplausos e também contestações.

O tema – é claro – está longe de ser uma unanimidade. É polêmico por natureza. Um meio de comunicação filmou parte da atividade e publicou nas redes. As reações também aconteceram ali, naquele ambiente mediado. Novamente alguns elogios e algumas contestações. Normal. O fato triste foram as ofensas grosseiras, os palavrões e até algumas expressões em tom de ameaça. O mundo virtual está descortinando a real natureza de muitos homens e mulheres que se apresentam como “pessoas de bem” em alguns ambientes e em outros revelam sua falta de civilidade total.

Por não concordar com uma manifestação eu tenho direito de insinuar que aqueles que a protagonizam são desonestos, tem má índole, desrespeitam a ordem? Por estar em campo oposto à ideia que alguém manifesta em público eu tenho direito – mesmo sem sequer conhecer a pessoa – de insinuar que ela é “maconheira”, “vagabunda” ou “preguiçosa” (algumas palavras utilizadas não podem ser utilizadas aqui, infelizmente)? Alguns crimes virtuais foram cometidos neste dia, expressos naquela postagem, praticados por gente grande que infelizmente parece ter ainda muito a aprender com os mais jovens sobre a vida em comunidade e as suas contradições.

Suas reivindicações eram injustas? Que se fizesse o contraponto! Falavam alguma mentira? Que se apresentasse a “verdade”. Criaram algum tipo de desordem? Que se apontasse aos meios legais para que os interpelassem.

Acredito que há formas mais criativas e também mais inteligentes de fazer contraponto quando somos contrariados. Mas essa é apenas a minha interpretação. Já faz algum tempo que procuro desenvolver alguma empatia até mesmo por aqueles que me são radicalmente inversos no pensar e, creio eu, tenho me tornado um ser humano um pouco melhor. Mas é claro, de alguns cidadãos e cidadãs de bem, não espero o mesmo comportamento.

Eu fiquei feliz com a atitude corajosa dos meninos e meninas que se manifestaram naquele espaço, daquela forma e com aquele objetivo. São criativos e alegres, tem coragem de colocar para debate nomes que se consideram intocáveis e, por se portarem assim, fizeram algumas cobras mostrar suas peçonhas. Parabéns juventude camponesa! Vocês me fazem ter orgulho de empenhar algumas palavras em apoio à sua luta.

Marcos Antonio Corbari

Jornalista e militante do MPA

 

Fotos: Luz Angela