O aumento da fome e a inflação dos alimentos no Brasil são consequências de uma mesma causa: a baixa oferta de alimentos no mercado interno nacional.
É o que os especialistas da economia agrícola convencional chamam de “choque de oferta”, quer dizer, pouco alimento à disposição dos consumidores. Pela lei de mercado, quando tem baixa oferta e alta procura, os preços sobem. Quando os preços sobem, compra quem tem dinheiro e os mais pobres passam fome.
Claro que o desemprego e a falta de renda para grandes maiorias tem grande impacto também. Mas se tivesse maior poder de compra com baixa oferta, a inflação da comida seria ainda maior.
O problema de fundo é outro. Porque tem baixa oferta de produtos de consumo popular?
Os economistas do “choque de oferta”, liberais conservadores alinhados ao agronegócio, já estão começando a esboçar explicações para as causas desta baixa oferta: pandemia, estiagens e dólar alto.
Ora, a explicação da estiagem e da pandemia não se sustenta quando alardeiam a maior safra de soja da história do país. Então a pandemia e a estiagem impediram a produção de feijão, arroz, mandioca, batata, leite, hortigranjeiros, frutas e não na produção de soja?
Estiagem teve impacto, sim. Mas em parte. Câmbio (dólar) alto é uma consequência a mais da desastrada política econômica do Guedes.
Então, a causa real é a política do governo Bolsonaro de total desprezo pelos que produzem alimentos para o mercado interno: os camponeses, agricultores familiares, pequenos produtores, pouco importa a denominação. Foram abandonados pelo estado brasileiro, que destruiu as políticas de apoio a este enorme grupo social e ao seu denodado trabalho de produzir o que enche de fartura as mesas do provo.
Jogados à lógica da concorrência desleal de mercado – Bolsonaro, Guedes e Tereza Cristina – fizeram com que suas terras e seus esforços fossem tragados pelo cultivo da soja com altos ganhos no mercado internacional e dólar alto. Só ação decisiva do Estado evitaria este desequilíbrio. Fez o contrário: expandiu da soja.
Os Movimentos Sociais do Campo e da Cidade – percebendo os efeitos e as consequências desta política desastrosa – propuseram uma proposta modesta para amenizar os efeitos desta política de desgraça, uma lei para estimular a produção de alimentos com fomento, crédito de emergência, aquisição de alimentos para doação, equação do endividamento e assistência técnica. Foi batizada de lei Assis Carvalho e aprovada com ampla maioria na Câmara e no Senado.
Bolsonaro vetou.
Novo Projeto de Lei, com conteúdo semelhante, foi apresentado este ano e está com prioridade de votação na Câmara. Governo Bolsonaro vai votar contra e se for aprovado, veta de novo.
Então está claro: Bolsonaro quer a fome e a careza dos alimentos.
Fome e corrosão do poder de compra do salário para milhões de famílias.
Negou vacina, agora nega comida.
Genocídio duplo. Negação da vacina tira a vida de idosos. Fome mata crianças.
*Frei Franciscano, militante do MPA e autor de “Agricultura Camponesa Familiar: Indispensável Para Reconstruir o Brasil”
** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.