Vejamos. Collor assumiu em 1990 e, em 1992, foi encurralado por acusações de corrupção e, em desespero, convocou os seus eleitores para vestirem camisetas com as cores da bandeira nacional e saírem às ruas para apoiá-lo. Eles vestiram roupas pretas. Collor tentou escapar do impeachment renunciando em 1992, e assumiu o seu vice, Itamar Franco, que governou até 1995. Ele implantou o Plano Real, que deu estabilidade econômica para o país e foi responsável por quase três décadas de progresso. Os pontos em comum entre Collor e Bolsonaro são poucos. Collor disputou com Lula, e Bolsonaro com o prestígio político do ex-presidente, que apoiou Fernando Haddad (PT – SP).
Os dois surfaram na onda anti-PT – há um vasto material na internet sobre o assunto. Há muitos fatores que separam a vitória de Collor e a de Bolsonaro. Collor construiu a sua vitória nos debates nas redes de TV. Um deles ficou famoso. O que aconteceu na Rede Globo foi editado beneficiando a candidatura Collor – há um vasto material sobre o assunto na internet. Lembremos que, em 1989, a internet era um assunto de ficção cientifica no Brasil. E todo o poder das comunicações pertencia às redes de TV, aos jornais e às rádios. Em 2018, a internet é uma realidade no país, e as redes sociais tiraram muito do poder da mídia tradicional. Tanto que Bolsonaro participou de um único debate no primeiro turno e concentrou a sua campanha nas redes sociais, seguindo o exemplo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. E também atacou a mídia tradicional e não poupou munição na tentativa de desmoralizar os jornalistas.
Há outra diferença fundamental. Collor é do setor de comunicação, a sua família tem uma rede de TVs afiliada da Rede Globo e jornais. Bolsonaro é capitão da reserva do Exército. Aqui é importante ficarmos atentos para o seguinte. No ano em que Collor se elegeu, a imagem das Forças Armadas entre os brasileiros era de ruim para pior, devido ao Regime Militar (1964 a 1985). Pesavam contra os militares acusações de torturadores, assassinos e, principalmente, de terem deixado como herança a hiperinflação. Collor era chamado pelos seus adversários de “filhote da ditadura”. Em 2018, a imagem das Forças Armadas na opinião pública é muito boa. E isso ajudou a eleger Bolsonaro. Aqui chegamos a um ponto muito importante dessa história. Logo que a campanha para a presidência da República de 2018 começou, não passava pela cabeça dos jornalistas nas redações a eleição de Bolsonaro. Mas isso não significava que o grupo político dele estivesse sendo formado. O conhecimento que temos de como esse grupo foi formado é escasso, e muita coisa ainda está no terreno das hipóteses. Por exemplo: como é que o economista Paulo Guedes entrou nessa história? Bolsonaro foi chutado pelas Forças Armadas devido a sua indisciplina. Como é que ele fez as pazes com os generais? Qual é o papel do pensador, jornalista, astrólogo e que se diz filósofo no grupo? Nós, repórteres, ainda não esclarecemos ao nosso leitor qual é a argamassa que une essa turma.
Saber como tudo aconteceu é importante para informar ao nosso leitor o que irá acontecer no dia seguinte à data programada para a manifestação. Caso ela seja cancelada, nós vamos precisar explicar. O que nós sabemos. É conversa fiada do grupo de Bolsonaro afirmar que fizeram campanha com poucos recursos econômicos. Não foi assim. Vários apoiadores, principalmente pequenos e médios empresários, financiaram por sua conta campanha política em suas regiões. Houve um apoio forte do setor de transporte rodoviário de cargas, do agronegócio e das redes de lojas. Por acontecer em regiões afastadas dos grandes centros, esse tipo de apoio tem grande poder de mobilização local. Nos centros urbanos, Bolsonaro contou com o apoio das igrejas pentecostais e dos sindicatos de policiais militares. Vamos ter uma boa história para esclarecer e contar no dia seguinte a 26 de maio. É simples assim.