Muito se escreveu e muito ainda será escrito sobre a recente greve dos caminhoneiros, em parte também locaute de grandes empresários. Aqui vamos tratar sobre os clamores que as estradas verberaram durante o impactante movimento.
Ao que parece, os verdadeiros heróis das estradas queriam é melhores condições de trabalho, diesel mais barato, frete melhor remunerado, refinanciamento das dívidas de seus empréstimos, isenção de pagamento de pedágio sobre o rodado livre com caminhão vazio, entre outros.
Os grandes empresários – pois “empresa” (e são muitas) que tem dois ou três caminhões não está neste time, está no time de baixo – agregaram na pauta “redução de impostos”, tema que não interessa ao caminhoneiro autônomo e ao caminhoneiro peão de empresário. O diesel mais barato tem que ser tirado dos lucros estratosféricos do petróleo (que só beneficiam investidores internacionais) e não dos investimentos em estradas e saúde.
Mas outros dois clamores ecoaram nas estradas: um barulhento e outro à “boca pequena”.
O clamor barulhento, parecendo minoritário, embora autoritário, arrogante e arrotando grosserias, dizia: “Intervenção Militar Já”. Pareceu um recuo, ou um atestado antecipado de derrota. Meses atrás estariam dizendo: “Bolsonaro Presidente”.
Eram endossados e controlados pelos administradores dos grupos de whatsapp que deram dinamicidade à greve e que, de forma autoritária, excluíam qualquer voz que destoasse da pauta imposta.
O clamor à “boca pequena”, mais humilde, mais receoso, porém francamente majoritário, dizia: “Volta Lula”. “Nos tempos de Lula a situação era bem melhor”. Este clamor por “Volta Lula” ficou ainda mais evidenciado após o fim da greve, quando os administradores abandonaram os grupos.
À medida em que este clamor receoso que ecoou nas estradas do Brasil, e que está presente em toda a sociedade brasileira, se tornar organizado, corajoso e forte, as grades da masmorra de Curitiba, simplesmente derreterão.
(Esse texto foi escrito baseado em dias de vivência nos grupos de whatsapp dos caminhoneiros e em conversas dos militantes do MPA com caminhoneiros em vários locais do Brasil).
(*) Frei Sérgio Antônio Görgen é frade franciscano, militante do MPA, autor do Livro Trincheiras da Resistência Camponesa. Maister F da Silva é militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).